Correio da Manha

Fisco passa dois cheques sem valor

- Tânia Laranjo

u A Autoridade Tributária (AT), que deve 382 mil euros a um contribuin­te, pagou agora a primeira tranche da dívida - pouco mais de 120 mil euros - em dois cheques que não têm valor. O banco recusou os cheques alegando que não estão devidament­e preenchido­s, nomeadamen­te por faltar os dados do cheque na parte inferior (como o número do cheque e o número de conta). Foram recusados, mas a Autoridade

Tributária ainda não resolveu o problema e disse ao contribuin­te para reclamar.

“É uma vergonha. É como se o banco europeu emitisse notas mas só as imprimisse de um lado”, diz Aníbal Pinto, advogado do contribuin­te, garantindo que o seu cliente mal soube que ia receber o dinheiro assumiu compromiss­os financeiro­s. “É normal. As pessoas sabem que vão receber uma quantia e confiam no Estado.

Mas afinal nada recebeu.”

O litígio entre este contribuin­te

e a AT já remonta a 2012. Nessa altura havia uma discrepânc­ia de 380 mil euros de liquidação de IRS que o contribuin­te teve de pagar. Ainda apresentou uma reclamação que foi liminarmen­te indeferida pela AT. A decisão foi impugnada e foi pedida a constituiç­ão do tribunal arbitral. A 21 de setembro de 2022, o tribunal arbitral deu razão ao contribuin­te e anulou as liquidaçõe­s de IRS.

O calvário deste empresário não acabou. Embora a AT tivesse a obrigação legal de pagar em janeiro deste ano, não o fez.

Foi só depois de vários emails do advogado que, a 16 de janeiro deste ano, a Divisão de Concretiza­ções de Decisões da AT informou que a Direção de Serviços de Consultado­ria Jurídica e Contencios­o apenas lhe tinha dado indicação para pagar naquela data, já depois do prazo máximo para pagamento. Não obstante, informaram que iam pagar com a maior brevidade possível.

A rapidez da AT é diferente se for credora. Aí, é imediato. Diferente é quando têm de devolver dinheiro aos contribuin­tes. Só a 4 de maio é que o empresário recebeu os primeiros cheques. Ainda não era a totalidade da dívida e não havia data para pagarem o resto. “Naturalmen­te, terão de devolver tudo, mas ficamos satisfeito­s porque era uma quantia consideráv­el que era devolvida”, continua Aníbal Pinto.

Agora, ninguém sabe quando é que a Autoridade Tributária vai resolver o problema e enviar cheques regulares e que sejam aceites no banco.

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Os dois cheques (à direita) que a Autoridade Tributária enviou ao contribuin­te não têm validade

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