Nove vítimas de crimes sexuais todos os dias
INQUÉRITOS Polícia Judiciária investigou 3223 crimes de natureza sexual em 2023 ª VÍTIMAS Cerca de 70% são menores, do sexo feminino, e têm entre 8 e 13 anos
u Esteve apenas meia hora com o sobrinho bebé, mas foi o suficiente para traumatizar a criança para toda a vida. O menino, de 18 meses, ficou ao cuidado do tio, de 27 anos, e o homem atacou-o sexualmente, de forma bárbara, obrigando à hospitalização da criança. O crime ocorreu no ano passado, em Leiria, e o homem foi condenado esta semana. O bebé, que deverá ficar com marcas físicas e psíquicas, faz agora parte da cruel estatística: a cada dia que passa, são atacadas sexualmente, em média, quase nove pessoas, a grande maioria (70%) são crianças e jovens.
Os dados são da Polícia Judiciária (PJ), que no ano passado investigou 3223 novos crimes sexuais, uma média de 268 por mês, quase nove por dia. Segundo dados do Observatório da Criminalidade Sexual da PJ, aos quais o CM teve acesso, apenas no último trimestre do ano passado deram entrada 744 inquéritos associados a crimes de natureza sexual. Cerca de 70% dos crimes foram praticados contra crianças e jovens, com especial incidência na faixa etária dos 8 aos 13 anos. À semelhança de períodos anteriores, verificam-se duas realidades: a maioria dos agressores são do sexo masculino (mais de 95%), e as vítimas são, em grande maioria, do sexo feminino (cerca de 80%)
Os crimes sexuais correspondem a quase 10% das investigações realizadas pela PJ. Nos últimos 10 anos foram investigados 32 694 inquéritos relacionados com criminalidade sexual, destacando-se o abuso sexual de menores como o crime mais frequente.
Este fenómeno ocorre sobretudo no seio familiar, mas há também agressores sexuais entre outras pessoas próximas, em ambientes escolares, desportivos, religiosos, de saúde e até da proteção social. Muitos agressores atuam online, mundo que permite com alguma facilidade a aproximação do predador à vítima.
A dimensão do fenómeno é considerada esmagadora para Carlos Farinha, diretor nacional adjunto da PJ, segundo o qual “mais uma vítima é sempre uma vítima a mais”. O responsável explica que as respostas não se limitam à investigação criminal, sendo importante encaminhar as vítimas para entidades que prestem apoio: “Há uma grande preocupação com o lado humano, para as vítimas sentirem que são apoiadas pelo sistema.” Refere que “é importante sinalizar o mais depressa possível” e pede atenção a alguns sinais, como, por exemplo, a alteração de comportamento ou de rendimento escolar, nos casos de abuso sexual de crianças. Destaca ainda a qualidade da investigação baseada na “formação” e na “especialização das equipas” que “não entram em rotina” “nem banalizam”, “tratando cada situação como a mais importante”.