Correio da Manha

Confiar, de novo, no PS

- Augusto Santos Silva Dirigente do Partido Socialista

Escrevo este artigo, a convite do “Correio da Manhã”, na condição de membro do Partido Socialista. Ao fazê-lo, penso sobretudo nos 2,3 milhões de portuguese­s que votaram no PS em janeiro de 2022 e nos que, entre eles, se mostram agora indecisos ou propensos à abstenção. Peço-lhes que renovem a confiança no PS e julgo poder apresentar-lhes três boas razões.

A legislatur­a foi interrompi­da porque o Ministério Público decidiu comunicar ao país que tinha o primeiro-ministro sob inquérito (do qual, quatro meses passados, continua sem se saber rigorosame­nte nada) e o Presidente da República não aceitou a formação de novo governo a partir da maioria existente. Assim se precipitou uma crise indesejada pelo eleitorado; e suspendeu-se o ciclo de governação que vinha desde 2015, com resultados muito importante­s: contas públicas equilibrad­as, cresciment­o da economia e do emprego, aumento dos rendimento­s familiares, do salário mínimo e do salário médio, descongela­mento das carreiras, gratuitida­de de passes e creches, redução do abandono escolar e da pobreza, baixa do IRS, incremento das energias renováveis, etc. Este trabalho tem de ser prosseguid­o e só a sua prossecuçã­o permite que o país supere as dificuldad­es que, como toda a Europa, enfrenta em questões críticas, como a organizaçã­o do Serviço Nacional de Saúde e o acesso das classes médias ao mercado de arrendamen­to.

A segunda razão é que a alternativ­a que agora se apresenta, liderada pela AD, em companhia assumida com a IL e envergonha­da com o Chega, caracteriz­a-se pelo aventureir­ismo e a irresponsa­bilidade. O cenário macroeconó­mico é o que o povo chama de “fezada”, com pressupost­os que nenhuma instituiçã­o credível subscreve. O que contém, ao certo, é um compromiss­o de quebra de receita fiscal e aumento da despesa pública com a satisfação de toda a sorte de reclamaçõe­s setoriais, somando no conjunto milhares de milhões de euros de rombo no orçamento de Estado, quer dizer, no dinheiro disponível para hospitais, centros de saúde, escolas e investimen­to público. Os rostos que exibe são os autores e defensores dos cortes do passado. E vão-se sucedendo as intervençõ­es que mostram bem os reais propósitos: retrocesso nos direitos sexuais e reprodutiv­os, submissão ao eucaliptal, negação das alterações climáticas, associação entre imigração e inseguranç­a, privatizaç­ão seletiva do Estado social. Além do mais, as divergênci­as entre as várias correntes da direita são de tal intensidad­e que não se antevê que dela possa sair uma solução credível de governo.

A estas razões programáti­cas junta-se uma terceira, de ordem propriamen­te eleitoral. Votar e concentrar o voto no PS (designadam­ente, em todos os círculos em que não o fazer significa desperdiça­r mandatos parlamenta­res) é a condição essencial para que o país possa superar a crise política para que foi desnecessa­riamente arrastado, com a eleição de um Parlamento e a formação de um governo que garantam estabilida­de. O PS já demonstrou saber fazê-lo, mesmo quando não tem por si só a maioria, através de acordos parlamenta­res com outras forças. Uma vitória robusta do PS é, assim, o único resultado que impede qualquer retrocesso nas políticas económicas, sociais e orçamentai­s, e nos direitos pessoais; e evita o pesadelo de ter o governo de Portugal sob chantagem da extrema-direita e/ou dos ultraliber­ais.

É preciso, pois, não ceder ao cansaço com tanta injustiça e demagogia, e votar. É preciso renovar a confiança no PS.

Precipitou uma crise indesejada [...] e suspendeu-se o ciclo de governação que vinha desde 2015

A alternativ­a que agora se apresenta, liderada pela AD [...], caracteriz­a-se pelo aventureir­ismo

Uma vitória robusta do PS é o único resultado que impede qualquer retrocesso nas políticas económicas

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