Similitudes e diferenças
OGoverno que foi anunciado vai começar um novo ciclo, ultrapassada que foi a “ligeira demora” na eleição do Presidente da Assembleia da República. Devo, a propósito, salientar as qualidades de José Pedro Aguiar-Branco, que, entre várias funções de muita responsabilidade, foi Ministro da Justiça no Governo que chefiei. Conheço-o, pois, e estou certo de que honrará a história da Assembleia da República.
Vai ser uma tarefa hercúlea, a do Governo de Luís Montenegro. Uma maioria quase tangencial, os traumas políticos dos tempos mais recentes, as dificuldades na Europa e no Mundo, as oscilações da economia, as eleições na Madeira e para o Parlamento Europeu, nada vai dar facilidades ao novo Primeiro-Ministro e à sua equipa.
Tem-se falado do primeiro Governo de Cavaco Silva, também minoritário, só do PSD e com um resultado eleitoral de 29%. Também sei do que falo, porque fui Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros (portanto, com assento em todas as reuniões do Conselho). Nessa ocasião, Cavaco Silva também chamou figuras relevantes da sua direção política. Para Ministro de Estado e MAI, Eurico de Melo; Assuntos
Parlamentares, Fernando Nogueira; e para Ministro da Defesa, Leonardo Ribeiro de Almeida. O Ministro das Finanças, Miguel
Cadilhe, tinha sido seu Secretário de Estado no Governo de Francisco Sá Carneiro, e a Ministra da Saúde, Leonor Beleza, vinha da Secretaria de Estado da Segurança Social. Por curiosidade, era a única Ministra (outros tempos). Valente de Oliveira, no Planeamento, e Santos Martins, na Indústria, eram exemplos de perfil mais técnico. Álvaro Barreto, na Agricultura, e João Oliveira Martins, nas Obras Públicas, também técnicos/gestores reputados, nestes casos, com vida partidária.
Há, pois, similitudes, nos pesos das componentes mais política e mais técnica. As diferenças são muitas: não havia redes
Vai ser uma tarefa hercúlea, a do Governo de Luís Montenegro. Nada lhe vai dar facilidades
sociais, não caíam Governos por causa de investigações judiciais, só existiam dois canais de televisão. Foi o Governo seguinte, de Cavaco Silva, que deu as licenças a canais privados.
Para começar o seu tempo de Primeiro-Ministro, Luís Montenegro cometeu uma proeza ao manter em segredo a composição do seu Governo. À Cavaco? Não, porque agora, pelas razões que referi, é muito mais difícil guardar sigilo.