Correio da Manha

Velhas histórias continuam pertinente­s Jesus, o pioneiro

- Rui Zink ruigzink@gmail.com

Acreditemo­s ou não nelas, as histórias são reais. São sempre reais. A deste dia, com Jesus arrastando sua cruz sob os apupos da multidão enquanto é chicoteado pelos romanos, mesmo que não tivesse acontecido teria acontecido à mesma. As melhores histórias são as circulares, aquelas que uma pessoa pode transporta­r sem esforço, como uma criança a roda, no tempo em que as crianças brincavam na rua conduzindo uma roda com apenas um pedaço de pau ou mesmo um arame. A história de Jesus, sobretudo neste dia, é bonita porque encerra nela todas as fases da vida humana. Ele não só se sacrificou por nós, encena ainda os momentos de maior solidão. Que ele ressuscite três dias depois é bonito (e curiosamen­te coincide com a primavera) ao transforma­r o círculo fechado numa espiral que abre. E não só abre, ascende. Mais bonito só se houvesse palhaços.

Chegada ao terceiro milénio, a humanidade está numa encruzilha­da. Em princípio, estamos tão civilizado­s & científico­s que não precisaría­mos mais de histórias. Ou sequer de religião, à qual Marx chamou `o ópio do povo', suspeito que num dia de ressaca. Afinal, e para citar o mote em voga a propósito dos jovens, “somos a mais preparada geração de sempre”.

A pandemia, as guerras, as tricas vieram provar que falámos cedo

Não era já altura de pormos em prática, sobretudo agora que temos Inteligênc­ia Artificial, o famoso “Não matarás”?

demais. Afinal, ainda repetimos os bons velhos erros. No entanto, foi já há uns tempitos que Moisés recebeu os Mandamento­s. Não era já altura de pormos em prática, sobretudo agora que temos Inteligênc­ia Artificial, o famoso “Não matarás”? A verdade é que nada aprendemos. Não melhorámos enquanto espécie. O lado bom é que, se não mudámos assim tanto, as velhas histórias continuam pertinente­s. Ora cá está uma boa notícia que aqui dou, fresquinha, aos nossos amigos no Vaticano.

Uma expressão americana muito engraçada é a do `walk of shame'.

Literalmen­te, significa “a passeata da vergonha”, geralmente aplicada a quem volta a casa depois duma arrependid­a noite de pecado em cama estranha. Andy Warhol disse: “Um dia todos vamos ter os nossos 15 minutos de fama.” Fosse mais sábio, este criador da Arte Pop teria acrescenta­do: “E os nossos 15 minutos de infâmia.”

Ora, o que é a Via Sacra de Jesus a caminho do Calvário senão o primeiro e mais comovente e presente nos nossos corações `walk of shame'? Ah, pois. Até nisso Jesus foi pioneiro. A todos uma Santa Páscoa.

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