AFONSO PIMENTEL “EÉ BOM ESTAR RODEADO DE PESSOAS QUE ESTACIONAM O EGO”
Estreou-se aos 14 anos com o filme `Adeus Pai' (1996) e atualmente é um dos atores mais requisitados do panorama nacional. A brilhar como protagonista de `Senhora do Mar' (SIC), prepara-se para iniciar as gravações da 2.ª época de `Rabo de Peixe' (Netflix
Na SIC, canal que, provavelmente, mais tem apostado em si nos últimos anos, é protagonista da novela ‘Senhora do Mar’. Que balanço faz da experiência? O Manuel [personagem] é um privilegiado, mas é uma pessoa que não se encostou. Quando volta à Terceira isola-se mas a partir do momento em que se cruza com a Joana [Sofia Ribeiro] tudo muda. Aos poucos as coisas vão acontecendo. E isso é um desafio engraçado, não fazer o clássico ‘amor à primeira vista’ de novela.
Foi isso que o cativou para aceitar fazer esta novela?
Sim, sem dúvida. E é difícil à brava, porque eu já conhecia a Sofia [Ribeiro]. Estivemos uns anos sem estar juntos mas é uma pessoa com quem tenho uma empatia grande. Ter de retirar essa química quando começas a trabalhar... O Manuel Amaro, o realizador, não queria que fosse aquele amor logo de olhar para ela. Já tínhamos esse papel assumido no resto da novela com o Pedro e a Maria [João Jesus e Júlia Palha]. Connosco tinha de ser diferente. Está a ser um desafio intenso, não ser uma história de amor convencional.
A sua personagem está ao lado de uma mulher vítima de violência doméstica. Como é que é tratar este tema? Confesso que, para mim, foi muito difícil como ator. A fronteira entre aceitar tudo e ser um ‘banana’ é muito ténue. Mas foi muito giro este jogo, embora a muita cumplicidade com a
Sofia tenha atrapalhado algumas situações. Foi difícil mas prazeroso. A minha intenção é criar reações nos telespetadores sobre esta relação. Espero estar a conseguir!
Também é uma personagem ligada a animais, no caso vacas. Já tinha tido esta experiência?
Acho que é fundamental respeitar o espaço dos bichos e ouvir quem está por dentro do assunto. Nós tivemos uma formação numa vacaria para perceber o que podemos “A FRONTEIRA
ENTRE ACEITAR TUDO E SER UM `BANANA' É MUITO TÉNUE”
ou não fazer. E eu gosto muito desta proximidade com os animais.
É uma estreia a trabalhar nos Açores?
Não. Estreei-me em São Miguel, em 1995, com o filme ‘Adeus Pai’. Estive lá e depois também gravámos um mês e meio aqui na ilha Terceira. Portanto, há 28 anos, mas a esta ilha só voltei para este projeto e é giro acompanhar a mudança das coisas. Apesar da ilha ainda ser muito virgem...
Também é nos Açores que vai continuar a segunda temporada de ‘Rabo de Peixe’, da Netflix. Vai ser possível conciliar estes dois projetos?
Sim, é verdade que vou integrar a segunda temporada. Como vamos arrancar as gravações da Netflix entre abril e maio, estou a gravar muito para dar margem.
Mas a produção teve de adaptar as gravações por causa destes seus constrangimentos?
Antes de entrar neste projeto da SIC eu já tinha essa questão. Foi uma ressalva que foi muito bem aceite. Honestamente, é fixe quando estás a trabalhar com pessoas
“A MINHA CENA É FAZER PROJETOS FIXES, QUE ME DIVIRTAM E SOBRETUDO QUE ME ESTIMULEM PROFISSIONALMENTE”
que percebem a importância de outros desafios e mesmo assim dizem: ‘ok, mas quero que estejas aqui’.
Refere-se ao Daniel Oliveira, diretor de entretenimento da SIC?
Sim, sem dúvida. O Daniel tem tido esse cuidado e essa vontade. De perceber que é importante para todos fazermos coisas diferentes e estarmos em várias plataformas, não só a fazer novelas.
Pegando no facto de estar em diferentes plataformas... é algo que tem privilegiado ao longo dos últimos anos? Está em diferentes canais e registos ....
Gosto muito do registo de novela porque põe uma obrigação muito grande de arranjar mecanismos de resposta rápida, gravamos muitas cenas em pouco tempo e temos de arranjar soluções. O perigo é depois começar a usar sempre as mesmas soluções. Eu tento ‘policiar-me’ nes
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“HÁ PROJETOS INACREDITÁVEIS QUE NÃO VINGAM NAS AUDIÊNCIAS E OUTROS QUE
NÃO SÃO ESPECTACULARES E VINGAM”
se sentido...
Dê um exemplo.
No caso da série ‘Matilha’ (RTP 1) e do Tony da novela ‘Nazaré’ (SIC). Eram iguais. Eram dois bons malandros e eu tive de criar dois bons malandros diferentes. Tive a ajuda da Inês Rosado, direção de atores, que me ajudou muito na construção do Tony e foi muito por causa disso que resultou. É bom estar rodeado de pessoas que estacionam o ego e ajudam quando mais precisas.
Também procura pôr dar um toque especial a cada personagem?
Muitas coisas são minhas mas só as pessoas que me conhecem e convivem comigo diariamente é que sabem. Há pessoas que dizem que não me reconhecem no ‘Matilha’ (RTP 1), mas depois há também quem me diga que tem muitos traços meus.
Falando agora da série ‘Matilha’, da RTP1, que terminou recentemente mas está disponível na RTP Play e Prime Video... como foi este projeto?
Foi incrível. Era um projeto muito desejado, queríamos muito ter feito esta série, e finalmente conseguimos. O balanço é muito positivo e espero que as pessoas continuem a ver.
Têm-se dividido entre a SIC e a RTP...
Sim, é verdade. Já cheguei a ter dias em que tinha de promover as duas coisas, dos diferentes canais, à mesma hora. E acho que consegui porque são coisas diferentes, com públicos diferentes. E agora também há sempre a hipótese de andar para trás na box.
Lá está, estar em diferentes canais e plataformas é uma prioridade...
Claro que sim. A minha cena é fazer projetos fixes, que me divirtam e sobretudo que me estimulem profissionalmente. Não é do género: ‘ai que fixe, estou em dois canais ao mesmo tempo’.
Preocupa-o a questão das audiências?
Cada vez mais os números são importantes. Ainda para mais em produtos que estão em plataformas de streamming, como a ‘Matilha’ está na Prime Video. Temos que ter visualizações para fazermos mais. Para fazermos mais séries e novelas também nas televisões, com personagens e produtos que alimentem e sirvam diferentes franjas da população.
Está atento aos números?
Acho que somos todos curiosos. Nada garante nada. Gosto de saber, mas não gosto de ficar refém disso. Há pessoas talhadas para tal. Nós, como atores, tentamos fazer o melhor que sabemos para que o produto seja coeso. Mas a verdade é que há projetos inacreditáveis que não vingam nas audiências e outros que não são assim tão espectaculares e que tiveram audiências incríveis. Mas os números
“CADA VEZ MAIS OS NÚMEROS SÃO IMPORTANTES. TEMOS DE TER VISUALIZAÇÕES PARA FAZERMOS
MAIS PROJETOS”
têm de ser importantes porque se não houver números não há a mesma quantidade de trabalho.
É opção sua não ter contrato de exclusividade, ou preferencial, com a SIC?
Sim. Há fases da vida em que compensa ter uma exclusividade com um canal ou produtora, há outras fases, e até no que diz respeito ao mercado, em que faz sentido estar aberto a outros desafios e eu, neste momento, estou muito bem assim. Gosto de trabalhar com pessoas que respeitam artisticamente e pessoalmente. Essa é a prioridade.
Com tantos desafios em mãos, há espaço para passar tempo de qualidade em família [é casado e tem 2 filhos]?
Eu e a minha mulher tentamos gerir as agendas. Este ano até estamos a conseguir fazê.lo mais cedo do que o normal... costuma ser tudo em cima do joelho.