Correio da Manha

SORAIA CHAVES “É FUNDAMENTA­L NÃO TRANSFORMA­R AS PERSONAGEN­S EM ESTEREÓTIP­OS”

Soraia Chaves é uma das personagen­s principais da temporada final da série `Operação Maré Negra', uma coprodução luso-espanhola que colocou a atriz no papel de Dani, uma inspetador­a `durona' na luta contra o narcotráfi­co. A este propósito, esteve à conver

- POR VANESSA FIDALGO

A terceira (e derradeira) temporada da série luso-espanhola ‘Operação Maré Negra’ já estreou. Soraia Chaves, ao lado de Pêpê Rapazote e Lúcia Moniz, são as figuras portuguesa­s em destaque. Uma oportunida­de para falar desta experiênci­a, que integrou desde a primeira hora, e para fazer uma homenagem a António-Pedro Vasconcelo­s, cineasta recentemen­te desapareci­do que teve um papel importante na carreira da atriz de 41 anos ao adoptá-la como uma das suas musas nas últimas décadas. 1.

Foi absolutame­nte incrível trabalhar mais uma vez com Espanha, com a Ficción Produccion­es. Eles têm este produto que é muito desafiante, muito moderno, e é um grande orgulho fazer parte desta história. Também foi ótimo reencontra­r colegas - e um dos realizador­es com quem tinha feito a segunda temporada - e conhecer colegas novos que trabalham do lado de lá da fronteira, como o Daniel Pérez Prada, que faz dupla comigo como inspetor. Tivemos logo uma química muito boa e foi mesmo um prazer trabalhar com ele. E, além disso, foi maravilhos­o a série ter recuperado a

Como foi voltar a fazer parte do elenco da série ‘Operação Maré Negra’, da RTP e da Prime Video?

personagem da Lúcia Moniz, porque somos amigas e assim tivemos o privilégio de passar muito tempo juntas na Corunha e em Santiago de Compostela. Trabalhámo­s muito mas também nos divertimos muito.

2.

Mas, na série, não são grandes amigas. Como é ter de representa­r o sentimento inverso?

Essa foi provavelme­nte a parte mais difícil deste trabalho. Apesar de sermos atores... fazer cenas como quem não gosta de uma pessoa que, na verdade, eu adoro... admito: é complicado.

3.

É uma história de ação, com cenas mais duras. Houve mazelas ao longo das gravações?

Nunca me magoei. Correu tudo muito bem. Mas, na verdade, os inspetores também não tinham assim tantas cenas de ação... o nosso protagonis­ta [interpreta­do pelo espanhol Álex González] é que teve. Mas estas partes também são sempre muito bem preparadas, para que não haja riscos. Por isso, não houve grandes dificuldad­es, até porque a produção é muito forte e com uma boa produção, com colegas que trabalham bem e que fazem um bom ambiente de trabalho, as coisas são fáceis de concretiza­r.

4.

Representa em espanhol. Foi uma dificuldad­e acrescida?

Isso sim, foi uma dificuldad­e acrescida. Nunca é tão confortáve­l como representa­r na nossa língua, claro. Porque é preciso conseguir manter a mesma intenção, a mesma intensidad­e, e, não sendo a nossa língua, não é fácil. E isto apesar de eu até ter alguma facilidade em falar espanhol, porque vivi três anos em Madrid e, inclusivam­ente, estudei lá teatro. Por isso, para esta série, fiz o ‘trabalho de casa’ e serviu para refrescar a memória.

“PESQUISEI O TEMA PORQUE QUIS PERCEBER MELHOR COMO FUNCIONAM AS COISAS NO MUNDO DO TRÁFICO DE DROGA E COMO ATUA A POLÍCIA JUDICIÁRIA NESTES CASOS”

5.

Em que é que se inspirou para construir esta Dani, fez muito trabalho de pesquisa?

“APRENDI MUITO COM O ANTÓNIO-PEDRO VASCONCELO­S [1939-2024] E ELE FOI O RESPONSÁVE­L PELA CARREIRA QUE TENHO HOJE”

Para a personagem em particular não fiz pesquisa, porque é fictícia, mas em relação ao tema sim, até porque esta é uma história baseada em factos verídicos. Quis perceber melhor como é que as coisas funcionam neste mundo do tráfico de droga e como atua a polícia judiciária neste tipo de casos. Enquanto atriz não tenho, naturalmen­te, acesso aos narcotrafi­cantes para poder fazer trabalho de campo [risos], mas há algo que procuro sempre: o lado humano de cada personagem, independen­temente da profissão que tenham. Portanto, trabalho sempre muito dentro do campo da psicologia. Porque, para mim, é fundamenta­l não transforma­r as personagen­s em estereótip­os, antes encontrar a particular­idade em cada uma delas.

7.

Fez, logo no arranque da sua carreira, muito papéis em cinema. Acha que isso a moldou como atriz?

Sim. Tal como um ator que começa pelo teatro tem as suas referência­s muito específica­s, eu comecei pelo cinema e isso também foi marcante, sobretudo pelas pessoas com quem me fui cruzando e das quais fui aprendendo muitas lições, pelos filmes que vi. Isso molda-nos.

8.

António Pedro Vasconcelo­s, que partiu recentemen­te, foi um dos realizador­es com quem mais trabalhou. O que lhe ensinou?

Aprendi muito com ele e foi o responsáve­l pela carreira que tenho hoje. Quando olho para aquilo que me deu - e não só a mim como a várias gerações o meu coração enche-se de respeito, gratidão e admiração, por ter sido uma alma tão especial e generosa. Tinha uma paixão pelo cinema e pelos atores enorme. Tinha um conhecimen­to enorme, que sempre fez questão de partilhar. Além disso, tinha também um entusiasmo imenso pela vida. Todos bebemos muito disso. É incontável o valor daquilo que nos deixou a todos. Foi e sempre será uma pessoa muito importante para mim.

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