`OPERAÇÃO MAESTRO': UMA OPORTUNIDADE PARA O JORNALISMO
Quando a ‘Operação Maestro’ foi conhecida, formou-se uma espécie de consenso nas afirmações da generalidade dos comentadores sobre a forma como esta tinha sido conduzida. Diziam os tais analistas que, aparentemente, as autoridades teriam aprendido com erros e excessos cometidos no decurso da ‘Operação Influencer’ e da ‘Operação Zarco’, que, recorde-se, acabaram por estar na origem da queda de um Governo da República e de um Governo Regional. Sublinhavam a maior prudência demonstrada desta vez e a não precipitação na constituição de arguidos e na aplicação de medidas de coação como dados demonstrativos dessa lição que as autoridades teriam aprendido.
Talvez esta ‘Operação Maestro’ seja uma boa oportunidade para que os comentadores, analistas e jornalistas revelem uma capacidade de aprender e de não replicar erros, semelhante à que elogiaram às autoridades.
Avanço agora sem rodeios para evitar os equívocos: é a primeira vez, a esta dimensão, que a classe profissional dos jornalistas vê ‘um dos seus’ envolvido numa alegada marosca de
alto gabarito. Não se leiam nas minhas palavras juízos ou intenções antecipadas de condenar Júlio Magalhães, ou Juca. Tenciono apenas deixar uma reflexão pessoal e ficar atenta para verificar como será na próxima operação da Justiça com nomes sonantes.
Não tendo sido constituído arguido e sendo ‘apenas’ alvo de buscas ou suspeito de fraude, Juca tem beneficiado de um tratamento de exceção por parte (sobretudo) das televisões, que acredito que doravante se torne regra para suspeitos que possam vir a ser revelados por outras investigações. Falo de um respeito pela sua privacidade, que pouco ou nada tem sido ofendida, e por uma enorme contenção no que diz respeito a vasculhar o seu passado.
Se Juca fosse autarca, já alguém teria dito: “Recordar ainda [este arranque de frase com o verbo no infinitivo é uma espécie de impressão digital que denuncia um utilizador de frases feitas e praticante de jornalismo de terceira categoria] que o alegado suspeito da eventual fraude é o mesmo que já esteve a contas com a Justiça num processo relativo aos emails do Benfica.”
De igual modo se Juca fosse, por exemplo, médico, já alguém teria insinuado que as suas colaborações jornalísticas com o ‘jornal’ da Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal ou os elogios públicos tecidos à bastonária de uma Ordem profissional, para a qual tinha acabado de trabalhar como moderador de um painel num congresso da mesma Ordem, seriam indiciadoras de um perfil pouco dado a preocupações éticas ou deontológicas.
Mas nada disso está a ser feito, e ainda bem: pode mesmo ser que o jornalismo esteja a trilhar um novo caminho graças à ‘Operação
Maestro’.