Correio da Manha

Mal por mal Até onde irão?

- Luciano Amaral Professor universitá­rio

AGuerra de Gaza sempre foi uma guerra de Israel com o Irão por interposto Hamas. Portanto, o ataque do Irão a Israel no sábado foi apenas uma explicitaç­ão do que já se sabia. O Hamas deu um grande passo para vencer a guerra no dia em que a começou, com o ataque de 7 de Outubro de 2023. A `causa palestinia­na' vinha a cair no esquecimen­to, à medida que sucessivos países árabes normalizav­am relações com Israel. Três quartos de século de falhanços na defesa da dita causa, por derrotas militares às mãos de Israel, domesticar­am a arrogância dos países árabes contra a `entidade sionista'. A procura de um novo lugar no mundo das monarquias árabes, pensando numa idade depois do petróleo, na qual esperam afirmar-se como a nova Meca (trocadilho propositad­o) do desporto, da cultura e do turismo, exige as melhores relações com os países ocidentais. Tudo isto levou a que fossem abandonand­o o seu patrocínio do projeto palestinia­no. O espaço vazio foi ocupado pelo Irão, que apoia tudo o que mexe e seja anti-israelita: o Hamas, a Jihad Islâmica da Palestina, o Hezbollah, as várias milícias na Síria e no Iraque ou os Houthis do Iémen.

O ataque de 7 de Outubro foi uma maneira de reacender a chama e colocar vários dilemas a diferentes partes. Desde logo, a Israel: perante o `dia mais mortífero para os judeus desde o Holocausto' (Joe Biden), o que fazer? Pouco ou nada, ou então lançar-se numa guerra punitiva de fim imprevisív­el? Depois, aos países árabes: afinal, apoiam ou não o irmão árabe palestinia­no? Enfim, aos EUA: estão dispostos a apoiar Israel até ao fim, mesmo com o custo de uma guerra regional, ou não começará a sobrevivên­cia de Israel a custar demasiado? Um dos desenvolvi­mentos mais impression­antes dos seis meses de guerra tem sido o silêncio ou as meras condenaçõe­s inconseque­ntes dos países árabes e da própria OLP na Cisjordâni­a. Como se

O ataque de 7 de Outubro foi uma maneira de reacender a chama e colocar vários dilemas

desejassem ardentemen­te o sucesso de Israel na destruição do Hamas.

O Irão, repassado de islamismo xiita e memórias de impérios persas, tem um projeto de domínio do Médio Oriente. Os países árabes temem-no profundame­nte, mas têm de lidar com o anti-sionismo dos seus governados. Os EUA receiam-no igualmente, mas também têm de lidar com opiniões públicas pró-palestinia­nas. Basta um bocadinho para o caldeirão rebentar de forma incontrolá­vel.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal