Mal por mal Até onde irão?
AGuerra de Gaza sempre foi uma guerra de Israel com o Irão por interposto Hamas. Portanto, o ataque do Irão a Israel no sábado foi apenas uma explicitação do que já se sabia. O Hamas deu um grande passo para vencer a guerra no dia em que a começou, com o ataque de 7 de Outubro de 2023. A `causa palestiniana' vinha a cair no esquecimento, à medida que sucessivos países árabes normalizavam relações com Israel. Três quartos de século de falhanços na defesa da dita causa, por derrotas militares às mãos de Israel, domesticaram a arrogância dos países árabes contra a `entidade sionista'. A procura de um novo lugar no mundo das monarquias árabes, pensando numa idade depois do petróleo, na qual esperam afirmar-se como a nova Meca (trocadilho propositado) do desporto, da cultura e do turismo, exige as melhores relações com os países ocidentais. Tudo isto levou a que fossem abandonando o seu patrocínio do projeto palestiniano. O espaço vazio foi ocupado pelo Irão, que apoia tudo o que mexe e seja anti-israelita: o Hamas, a Jihad Islâmica da Palestina, o Hezbollah, as várias milícias na Síria e no Iraque ou os Houthis do Iémen.
O ataque de 7 de Outubro foi uma maneira de reacender a chama e colocar vários dilemas a diferentes partes. Desde logo, a Israel: perante o `dia mais mortífero para os judeus desde o Holocausto' (Joe Biden), o que fazer? Pouco ou nada, ou então lançar-se numa guerra punitiva de fim imprevisível? Depois, aos países árabes: afinal, apoiam ou não o irmão árabe palestiniano? Enfim, aos EUA: estão dispostos a apoiar Israel até ao fim, mesmo com o custo de uma guerra regional, ou não começará a sobrevivência de Israel a custar demasiado? Um dos desenvolvimentos mais impressionantes dos seis meses de guerra tem sido o silêncio ou as meras condenações inconsequentes dos países árabes e da própria OLP na Cisjordânia. Como se
O ataque de 7 de Outubro foi uma maneira de reacender a chama e colocar vários dilemas
desejassem ardentemente o sucesso de Israel na destruição do Hamas.
O Irão, repassado de islamismo xiita e memórias de impérios persas, tem um projeto de domínio do Médio Oriente. Os países árabes temem-no profundamente, mas têm de lidar com o anti-sionismo dos seus governados. Os EUA receiam-no igualmente, mas também têm de lidar com opiniões públicas pró-palestinianas. Basta um bocadinho para o caldeirão rebentar de forma incontrolável.