As Repúblicas também acabam
AIV República Francesa era democrática. Tratava-se de um sistema eminentemente parlamentar em que o Presidente da República não era eleito por sufrágio universal e direto, mas sim por um colégio eleitoral composto no Parlamento. Enfrentou situações muito complexas e veio a ser substituída, em
1958, pela V República, também democrática, mas com um sistema de governo semipresidencial. Esta nasceu sob a égide e a liderança do General De Gaulle. Um referendo, em 1962, acentuou a componente presidencial e o Presidente é, normalmente, o chefe da sua maioria e, quando entende, preside ao Conselho de Ministros.
Não vale a pena estar a comparar dificuldades. Essa IV República demorou doze anos, mas foi sempre vista como um renascimento da III República, que durou de 1870 até 1940. A IV correspondeu ao período pós-Segunda Guerra Mundial. Houve muitas realizações em França nesse período, houve crescimento económico, mas muita instabilidade governativa e enormes tensões com as então colónias, principalmente a Argélia. Aconteceu então o colapso das instituições. E é esse ponto que importa sublinhar: é que as democracias e as Repúblicas também podem cair. Não são só as ditaduras.
Quando o descrédito e a degradação atingem níveis insustentáveis, algum tipo de rutura pode acontecer.
Quando esse descrédito atinge os vários poderes do Estado, entra-se num patamar perigoso. E pode nascer um clamor agora ainda difícil de admitir ou de prever. Já agora: a escolha do novo Presidente será feita durante o próximo ano. Alguém quer pensar o que pode trazer, se todo este clima de instabilidade e confrontação entre Poderes Públicos continuar? É bom saber pensar politicamente e fazê-lo com antecedência.
Os regimes não são eternos. É bom ter isso presente nos 50 anos do 25 de Abril
É importante não nos deixarmos apanhar de surpresa. De repente, tudo muda, e como noutras mudanças de regime noutros
Países, podem ocorrer novas eleições constituintes, haver uma nova Constituição, um novo sistema de governo, novos dirigentes.
Se uma República soçobra, outra pode nascer. O que é impossível é a deterioração não estancar e o descrédito e o bloqueio atingirem a generalidade dos poderes soberanos e da Administração.