Morreu o autor da `Trilogia de Nova Iorque'
u Paul Auster tinha 14 anos quando assistiu à morte de um miúdo, fulminado por um raio perto dele, num campo de férias. O acaso, o acidental tornou-se numa obsessão e viria a marcar a sua obra para sempre. O autor da `Trilogia de Nova Iorque' morreu na terça-feira, 30 de abril (quando já era quarta em Portugal), vítima de cancro no pulmão. Autor de 34 livros – 27 deles publicados entre nós (pela Leya/Asa) –, Auster vendia muito nos Estados Unidos, mas tinha o estatuto de estrela na Europa, onde recebeu, em 1993, o Prémio Médicis
Étranger (por `Leviathan') e em 2006 o Prémio Príncipe das Astúrias de Literatura. Em 2007 foi agraciado comendador da Ordem das Artes e das Letras de França.
Nascido em Newark, Nova Jérsia, em 1947, Paul Auster tornou-se escritor – segundo o seu próprio relato – porque aos oito anos não conseguiu obter um autógrafo do seu herói, o jogador de basebol Willie Mays, por não ter um lápis à mão. A partir desse dia, nunca mais largou esse objeto, que se lhe tornaria indispensável. “Quando andas com um lápis, há uma forte probabilidade de que um dia comeces a usá-lo...”, explicou em 1995. Após os estudos na Universidade de Columbia, viveu brevemente em Paris e durante as décadas de 1980, 1990 e 2000 publicou mais de 12 romances, incluindo `A Música do Acaso' e `O Livro das Ilusões'. Assinou, também, o argumento do filme `Smoke – Fumo', de Wayne Wang, com Harvey Keitel e William Hurt, que lhe valeu um prémio (melhor argumento de estreia). Casou duas vezes –
com as escritoras Lydia Davis (de 1974 a 1977) e Siri Hustvedt (de 1981 até à morte) – e teve dois filhos: Daniel Auster, fruto do primeiro casamento e que morreu de overdose em 2022; e Sophie Auster, que teve com Siri Hustvedt e que é atriz e cantora. Em março de 2023, a mulher revelou que ele tinha cancro, doença que descobriu enquanto trabalhava no livro, `Baumgartner', publicado em outubro. “Se for a última coisa que escrevo, então ir embora rodeado de pessoas atentas e encorajadoras, de bons amigos, terá valido a pena”, afirmou. Seis meses depois estava morto, aos 77 anos.
ESCRITOR CASOU DUAS VEZES E O SEU FILHO MAIS VELHO MORREU DE OVERDOSE, EM 2022