Apite o comboio!
De entre os grandes projetos de infraestruturas nacionais, os investimentos ferroviários sempre têm aparecido como uma espécie de parente pobre, quase acessórios, ocasionalmente considerados até uma iniciativa supérflua e megalómana. Todavia, se compararmos a realidade portuguesa com a dos outros países da União Europeia, se há área em que o nosso País perde por larga margem é mesmo na inexistência de uma solução capaz de oferta de um meio de transporte sustentável para o conjunto do território nacional. Por um lado, descontinuaram-se e desvalorizaram-se ligações dos principais meios urbanos aos territórios mais periféricos. Por outro, nunca se avançou de forma determinada para a criação de uma ligação competitiva entre os principais focos de população no nosso território. Esta competitividade assenta em questões tão diversas quanto a duração das viagens, a frequência, o conforto, a acessibilidade económica ou até as ligações internacionais. Ao arrepio das boas práticas globais, uma ligação aérea entre Lisboa e Porto ainda é uma alternativa à oferta ferroviária entre as duas cidades. Ao longo de todo o corredor do litoral, a utilização da viatura própria é massiva em relação às viagens de comboio. Esta situação acarreta custos económicos, diretos e indiretos; ambientais; e até sociais, face aos níveis de acidentes rodoviários que ainda marcam o nosso território. A concretização de uma ligação ferroviária moderna entre Lisboa e Porto, e, na sequência, ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro, a Braga, a Vigo e à Corunha, com um tempo de viagem que não ultrapasse as duas horas entre Braga e Lisboa, é crucial por todas essas ordens de razões, e para dar resposta a uma procura potencial de mais de 8 milhões de habitantes e de quase 16 milhões de passageiros por ano.
A título de exemplo, e segundo dados apresentados esta semana pelo ex-secretário de Estado Frederico Francisco numa iniciativa promovida pela AEMinho, no pouco denso
Deve ser dada prioridade ao corredor atlântico que o financiamento aprovado pela CE deve acelerar
território existente entre Lisboa e Madrid há pouco mais de 2 milhões de habitantes, sendo a procura potencial de uma linha entre as duas capitais dez vezes inferior à que corresponde ao trajeto Lisboa-Porto.
Fica assim clara a prioridade que deve ser dada ao corredor atlântico que o financiamento agora aprovado pela Comissão Europeia, de mais de 800 milhões de euros, deve acelerar.
Apite o comboio, pois! Para já, à beira do mar!...