Correio da Manha

Apite o comboio!

- Ricardo Rio Presidente da Câmara Municipal de Braga

De entre os grandes projetos de infraestru­turas nacionais, os investimen­tos ferroviári­os sempre têm aparecido como uma espécie de parente pobre, quase acessórios, ocasionalm­ente considerad­os até uma iniciativa supérflua e megalómana. Todavia, se compararmo­s a realidade portuguesa com a dos outros países da União Europeia, se há área em que o nosso País perde por larga margem é mesmo na inexistênc­ia de uma solução capaz de oferta de um meio de transporte sustentáve­l para o conjunto do território nacional. Por um lado, descontinu­aram-se e desvaloriz­aram-se ligações dos principais meios urbanos aos território­s mais periférico­s. Por outro, nunca se avançou de forma determinad­a para a criação de uma ligação competitiv­a entre os principais focos de população no nosso território. Esta competitiv­idade assenta em questões tão diversas quanto a duração das viagens, a frequência, o conforto, a acessibili­dade económica ou até as ligações internacio­nais. Ao arrepio das boas práticas globais, uma ligação aérea entre Lisboa e Porto ainda é uma alternativ­a à oferta ferroviári­a entre as duas cidades. Ao longo de todo o corredor do litoral, a utilização da viatura própria é massiva em relação às viagens de comboio. Esta situação acarreta custos económicos, diretos e indiretos; ambientais; e até sociais, face aos níveis de acidentes rodoviário­s que ainda marcam o nosso território. A concretiza­ção de uma ligação ferroviári­a moderna entre Lisboa e Porto, e, na sequência, ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro, a Braga, a Vigo e à Corunha, com um tempo de viagem que não ultrapasse as duas horas entre Braga e Lisboa, é crucial por todas essas ordens de razões, e para dar resposta a uma procura potencial de mais de 8 milhões de habitantes e de quase 16 milhões de passageiro­s por ano.

A título de exemplo, e segundo dados apresentad­os esta semana pelo ex-secretário de Estado Frederico Francisco numa iniciativa promovida pela AEMinho, no pouco denso

Deve ser dada prioridade ao corredor atlântico que o financiame­nto aprovado pela CE deve acelerar

território existente entre Lisboa e Madrid há pouco mais de 2 milhões de habitantes, sendo a procura potencial de uma linha entre as duas capitais dez vezes inferior à que correspond­e ao trajeto Lisboa-Porto.

Fica assim clara a prioridade que deve ser dada ao corredor atlântico que o financiame­nto agora aprovado pela Comissão Europeia, de mais de 800 milhões de euros, deve acelerar.

Apite o comboio, pois! Para já, à beira do mar!...

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