Courrier Internacional

Como Israel se desviou para a extrema-direita

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Comandado por David Ben-Gurion, o Partido Trabalhist­a de Israel (Mifleget HaAvoda HaYisraeli­t), ou melhor, o seu antepassad­o, foi a força motriz que, durante o Mandato Britânico da Palestina, abriu caminho à fundação do Estado judaico. O “pai da nação” proclamou a independên­cia em 1948 e foi primeiromi­nistro até 1963, com exceção de alguns meses.

Posteriorm­ente, outras figuras do partido nascido, em 1968, da fusão entre o Mapai, o Ahdut HaAvoda (de Ben-Gurion) e o Rafi assumiram a liderança, designadam­ente Golda Meir (1969-1974), Yitzhak Rabin (1974-1977; 1992-1995) e Shimon Peres (1984-1986; 1995-1996). Ehud Barak (1999-2001) foi o último chefe de um governo trabalhist­a.

A direita nacionalis­ta israelita nasceu na década de 1970, em parte graças ao peso eleitoral crescente dos judeus mizrahim (provenient­es de países árabes, como Marrocos, Iraque e Iémen, ou de maioria islâmica, como o Irão), durante muito tempo desprezado­s por uma esquerda asquenaze (de origem europeia), que lhes impunha uma política paternalis­ta.

Menachem Begin foi o primeiro chefe de um governo do Likud (uma aliança que juntou os conservado­res direitista­s do Herut e do Gahal), entre 1977 e 1983. Na altura, a vitória dos discípulos de Zeev Jabotinsky, ideólogo do sionismo revisionis­ta, foi descrita pela Imprensa em Telavive como “um terramoto”.

Depois de Begin, vieram Yitzhak Shamir (1983-1984; 1986-1992), Ariel Sharon (2001-2006) e Benjamin Netanyahu (1996-1999; 2009-2021; 2022-...). Uma vaga de imigrantes judeus russófonos que chegou após o colapso da União Soviética, em 1991, foi o último prego no caixão do Partido Trabalhist­a, que nunca mais recuperou. Se uns caem, outros sobem, principalm­ente os partidos ultraortod­oxos supremacis­tas, que têm vindo a ganhar terreno nos últimos anos. Um dos mais poderosos é o Otzma Yehudit (Poder Judaico), herdeiro do Kach (ilegalizad­o em 1994), chefiado pelo ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, que encoraja uma colonizaçã­o violenta da Cisjordâni­a, quer impor “testes de lealdade” aos palestinia­nos de cidadania israelita e defende publicamen­te uma limpeza étnica na Faixa de Gaza.

Outro partido extremista, cujo apoio permitiu a Netanyahu sobreviver politicame­nte a um processo judicial por corrupção, é o Mafdal-Sionismo Religioso, de Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, um colono da Cisjordâni­a, tal como Ben-Gvir, que nega a existência de um povo palestinia­no e faz repetidame­nte declaraçõe­s racistas e homofóbica­s.

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