A indústria do sono a acordar
Perante a procura crescente de melhores soluções para o sono, os setores da tecnologia e do turismo estão a reinventar-se – com diferentes graus de sucesso.
O negócio do sono atrai empresas, previa já o THE ECONOMIST em 2022. A Google, a Huawei e a Apple estão agora a incorporar “sensores minúsculos para observar os utilizadores durante a noite” e software para os ajudar a adormecer. E não são as únicas a posicionarem-se neste mercado. As startups especializadas em tecnologia do sono oferecem soluções ainda mais surpreendentes.
A empresa finlandesa Oura Health, por exemplo, vende anéis de titânio caros, que medem o pulso e a saturação de oxigénio. “Kim Kardashian é fã.” A empresa britânica Kokoon oferece auscultadores sem fios capazes de reproduzir sons relaxantes ligados à fase do sono em que se encontra. A empresa norte-americana Eight Sleep fabrica colchões que se adaptam à temperatura do corpo da pessoa que dorme e vende-os por mais de 2 500 euros.
Estas empresas dirigem-se às pessoas que sofrem de perturbações do sono, mas também àquelas para quem “a metrologia do sono se tornou um desporto”. Segundo o WALL STREET JOURNAL, esta tendência “envolve o controlo da ‘pontuação do sono’ e até estratégias para ganhar o concurso de ‘melhor dormidor’”. Para ter uma boa noite de sono, os seus adeptos estão dispostos a recorrer a produtos caros, como “emissores de ruído branco, simuladores de amanhecer (e anoitecer) ou robôs que pode segurar nos braços para relaxar”.
De acordo com a Global Market Insights, citada pelo THE ECONOMIST, “[as vendas] deste tipo de aparelhos representaram um volume de negócios global de 12 mil milhões de dólares [11,3 mil milhões de euros] em 2020, e este valor poderá, pelo menos, triplicar nos próximos cinco anos”.
O sono vende. O setor do turismo também se apercebeu disso. “As redes hoteleiras da moda equiparam-se para se tornarem oásis do bom sono”, relata o THE GUARDIAN. Algumas oferecem mesmo “retiros do sono”, dando aos hóspedes a oportunidade de, por vários milhares de euros, “se tornarem mestres na arte de dormir”. Um jornalista do TELEGRAPH visitou um desses estabelecimentos na Suíça. Com roupa de cama que se adapta à morfologia de quem dorme, sessões de ioga, medicina chinesa e refeições ligeiras sem álcool, a abordagem suíça é “séria”, considera. “Mas, paradoxalmente, [...] a coisa mais importante que lá aprendi é que é preciso levar as coisas com mais ligeireza”, confessa.
Uma lição importante, especialmente para aqueles que não podem pagar a experiência. Os preços praticados pela indústria do sono continuam a ser proibitivos para o grande público, segundo o THE ECONOMIST.
O título britânico considera ainda que os aparelhos para dormir melhor estão “longe de ser perfeitos”. Podem “ajudar os insones ligeiros e os que dormem mal a determinar se precisam de procurar assistência médica”, mas não podem resolver problemas mais graves. “Se os consumidores exaustos se aperceberem disso, os sonhos do metal sonante e líquido da tecnologia do sono podem transformar-se num pesadelo ruinoso.”