Já não somos coitadinhos
Um dos sentimentos mais complicados de lidar quando somos garotos (e bem, no resto da nossa vida) é o da injustiça. Lembro-me bem de o sentir naquele Alemanha-portugal que nos colocou fora do Mundial de 98, um dos episódios mais traumáticos da história recente do futebol português. Não há muita gente que não saiba quem é Marc Batta, o árbitro francês que expulsou Rui Costa, precipitando o empate da Alemanha campeã da Europa, quando Portugal é que jogava bem. Não me parece que tal coisa fosse hoje possível, porque ganhámos estatuto, Bolas de Ouro e um título de campeões da Europa. Mas o estatuto, na verdade, o que interessa? Pode dar-nos aquele respeitozinho que Batta não nos teve, mas o que interessa mesmo é ter uma equipa preparada para todas as situações, como aquela que Fernando Santos tem vindo a criar nos últimos anos. Depois de um percalço inicial na qualificação, com uma derrota na Suíça, era preciso ganhar os jogos todos para chegar ao Mundial de 2018. Fernando Santos disse que íamos ganhar. E ganhámos. O último jogo da qualificação foi bem paradigmático daquilo que é esta Seleção Nacional: uma equipa que sabe moldar-se aos acontecimentos, que consegue, no mesmo jogo, jogar de forma brilhante e de forma pragmática. Uma equipa moderna. O bilhete para a Rússia, frente a uma equipa que apenas perdeu um jogo, foi algo quase natural e que às tantas parecia que nunca havia estado em causa. Porque a confiança que Fernando Santos passa aos jogadores também já passou para todos nós.