«Não me permito ficar com medo»
Julia Roberts, a eterna “Pretty Woman”, é uma das estrelas do comovente “Encantador”, filme que estreia hoje em Portugal. Entrevistámos aquela que será a mais amada das atrizes norte-americanas contemporâneas.
No cinema, as estrelas não aparecem todas as noites. Mas, de vez em quando, lá surge um corpo fulminante que queima e deixa marcas. O magnetismo da estrela não tem tanto a ver com os filmes que fez, com as histórias que contou ou com os realizadores e colegas que apareceram ao seu lado na ficha técnica. Uma estrela só existe se tiver aquilo a que chamamos presença. Julia Roberts, a menina da Geórgia que saltou para a fama ao fazer de prostitutadocenacomédiaromânticapretty Woman e que acabou por ganhar um Óscar ao combater as forças do mal normal no drama Erin Brockovich, tem isso – uma enorme presença. Não há outra carreira em Hollywood que venha tanto do coração. Sim, ela domina todos os tons da raiva e da ironia, do amor e do sarcasmo e da tristeza, todos os tons da dor e confusão, medo, terror e fragilidade. Mas é o seu calor –asuaautenticidadehumana–quenos aquece a memória. O novo filme dela, Encantador, apresenta-nos uma mãe que tenta proteger o filho nascido com deformações crâneo-faciais, correndo ela o risco de descurar outros aspetos da sua vida. É outra tirada sincera, tocante e absolutamente mágica da atriz que não consegue deixar de ser quem é. As estrelas são assim. Servem-nos histórias de vulnerabilidade mas, enquanto as admiramos no escuro do cinema, mantêm-se firmes e luminosas.
Consta que, nos dias que correm, festeja os seus 50 anos de vida. Como é que uma estrela do cinema – digamos uma estrela com o calibre de, sei lá, uma Julia Roberts – festeja os 50 anos? E como se sente enquanto atravessa este momento da sua vida?
A festa é sempre feita na companhia da família. Como me sinto agora? Sinto-me ótima. Como já me sentia ótima no ano passado. Também tenho a certeza que gostaria de me sentir outra vez ótima daqui a um ano. Quer dizer, não consigo perceber bem a grande algazarra que se faz em torno desta data em particular. Ninguém sentiu uma excitação especial quando fiz 47. (risos). Mas tenho de, pelo menos, agradecer os ramos de flores. Por favor, não pense que me sinto mal-agradecida. O que não compreendo é a investigação cirúrgica que se faz à passagem dos 50. Como se qualquer viagem em torno do sol não fosse causa para celebrar e sentir gratidão.
É apenas uma maneira de contar o tempo, um marco, não acha?
Sim, é. E o que quis dizer foi exatamente isso: estou a amar cada mo- mento dessa celebração em família.
Quem, para além dos seus pais, lhe deu um sentido da sua enorme beleza? Não falo aqui tanto da aparência exterior, mas da riqueza pessoal e interior.
Acho que isso é sempre trabalho que tem de ser feito pelo grande amigo que temos na nossa vida. Também era aí que eu queria chegar. Sinto que, quando éramos crianças, não andávamos sempre a examinar o nosso ser ou cada uma das emoções. Pelo menos não o fazíamos com a frequência que vejo agora. Naquela altura, os anos do crescimento, como são os da adolescência, eram vistos e devidamente classificados genericamente como “aquela fase esquisita”. Ou, então, a coisa era remetida para uma conveniência tão simples como “oh, sabes como é, todos os adolescentes precisam de mais autoestima”. Não era um assunto que tivesse de ser debatido todas as semanas. Não havia conversas dedicadas exclusivamente ao tema. Para
«Sinto que, quando eramos crianças, não andávamos sempre a examinar o nosso ser ou as emoções»