O Estado laico e o Natal
Corre célere a tese segundo a qual num Estado laico não há oficialmente Natal. Os cristãos, apesar de constituírem um grupo perigoso cujo proselitismo os fiscais da “nova laicidade” devem controlar, poderão celebrá-lo recolhidos nas suas casas ou nos templos em oração. Para o Estado laico Cristo não existe.
Não nasceu, não morreu e não ressuscitou. Não há Natal ou Páscoa. O Estado laico ignora a Natividade e não reconhece oficialmente a Ressurreição. Uma coisa, confesso, não compreendo. Se num Estado laico não há Natal mas, quando muito, “quadra festiva”, em que consiste então esta última? Festeja-se o quê? O Pai Natal? Mas sendo o Pai Natal uma das muitas figurações do Natal não pode haver aquele sem este. Restam, portanto, as renas. Conclui-se assim, com insofismável segurança, que nesta “quadra festiva” o Estado só pode homenagear as renas. Ora, estando aqueles animais consabidamente em vias de extinção, perspectiva-se a extensibilidade comemorativa a outras espécies com cornadura, à excepção, claro está, da vaquinha, porque essa, figurando no Presépio, poderá ser susceptível de conexões com o imaginário cristão. Confesso, sob reserva e pedindo desculpa pelo descaro, que celebro o Natal contemplando o Presépio. A todos desejo muita paz, graças e bençãos. Aos que acreditam e aos que não acreditam; aos tolerantes e aos intolerantes; aos que vivem o Natal cristão e aos que vivem a festividade; aos que contemplam o Presépio e aos que observam a “árvore festiva”; aos que preferem as renas e aos que optam pelas vaquinhas. A todos. Com sorriso franco e de braços abertos. O Natal é isso mesmo. Um momento de reencontro entre todos os Homens e entre cada um e o melhor de si próprio. Não se permita que fundamentalismos, alimentados por incompreensíveis e desajustadas fobias, destruam a beleza, a magia e o encanto desta quadra. Feliz Natal. Ou Festas Felizes. Como quiserem. O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia