«O meu pai era um daqueles contabilistas que dava muita atenção à lógica das despesas»
e tolerância, foi aplicada ao novo filme?
A ideia de igualdade e tolerância – ou seja, a ideia de que devemos aceitar o que somos em vez de andarmos sempre preocupados com aquilo que os outros pensam de nós – foi um dos grandes legados que nos ficou do empresário P. T. Barnum. Toda a gente sabe que foi acusado de explorar alguns indivíduos menos típicos, mas a verdade é que todos eles faziam parte da família. O Tom Thumb vivia na casa do empresário. Casou-se na casa do patrão. O homem das tatuagens chegou a ter 10 milhões de dólares no banco, de salários acumulados. Eram pessoas famosas e respeitadas. A rainha Victoria, por exemplo, era uma grande admiradora de todos os artistas que apareciam naquele circo. Insistia em ir visitá-los. Ora bem, isso foi uma espécie de revolução cultural porque, até então, as pessoas chamadas deformadas eram vistas como amaldiçoadas por deus. Eram escondidas pela família, humilhadas, rejeitadas – como foi o caso do Homem Elefante. Entretanto, o ambiente cultural mudou. Hoje sabemos que aquilo que faz de nós pessoas diferentes é a mesma coisa que nos torna especiais. Temos que ter orgulho na nossa infinita especificidade.
Nota algumas semelhanças entre os artistas de circo e as crianças, os filhos, que tem lá em casa? Acho que é na infância que mais agonizamos com as nossas inseguranças pessoais…
Como no filme, o lema geral continua a ser: sente orgulho do que és. Sim, há filhos lá em casa. Sei que qualquer adolescente passa por uma fase com esses contornos. Há como que um desejo escondido, uma necessidade de ser normal, não sair dos eixos. No filme, a Keala Settle oferece-nos um grande espetáculo na realização dessa parte da história. Que artista fenomenal. Acho que a canção This is Me vai, aliás, transformar-se numa espécie de hino de toda uma geração.
«O homem das tatuagens chegou a ter 10 milhões de dólares no banco, de salários acumulados»