«Queria que houvesse sempre muita água»
Falámos com o cineasta Guillermo del Toro, a mente brilhante por detrás de “A Forma da Água”, aclamado filme protagonizado por Sally Hawkins, um comovente hino ao amor e ao respeito pelas diferenças de uns e de outros.
Guillermo del Toro, filho de Guadalajara, estado de Jalisco, México, tem passado a vida a meter medo. Nas histórias dele é fácil encontrar labirintos existenciais, fascismo espanhol, orfanatos, cenas do fim do mundo, vampiros, infernos, punhais, sangue e muita opressão vinda dos deuses poderosos -- alguns deles sob a forma de figura paternal doméstica, mas com jeito para a ditadura. Mas a nova aventura é algo bem mais refrescante. Fala de uma trabalhadora modesta, mas rebelde, decidida a ver amor e compaixão onde outros só encontram ameaça. Atenção ao dilúvio de água. O filme contem água nas ruas e chuva nas janelas. Há igualmente lágrimas, transpiração. E, quando ela rasga o calendário, a frase que fica à vista diz «O Tempo é um rio que que corre vindo do passado». Água é amor. A Forma da Água tem a forma dos nossos afectos. O senhor Guillermo, recente vencedor do Globo de Ouro de melhor realizador do ano, explica-nos tudo o resto.
Diga-me como chegou àquela banda sonora fantástica do Alexandre Desplat. Suponho que, para além da importância que lhe conhecemos na história do cinema, a música tem aqui um valor acrescentado: porque estamos a ser elevados num romantismo que transpõe barreiras e contornos tradicionais, porque também a protagonista de A Forma da Água se exprime com uma linguagem transnacional, etc. Fale-me disto...