Pai, a saudade nunca morre
Apareces assim de repente, sem aviso. Por vezes é o teu perfume, alfazema e tabaco, que vem de sítio nenhum. Outras, poderia jurar que sinto o teu respirar no meu ombro, uma sombra que não está lá, mas que eu vejo, sei lá, sinto-te por todo o lado, sem descanso, ainda hoje, e já passaram trinta e seis anos desde que partiste.
O que pensarias que eu faço? De quem sou?
A saudade não morre, e não se transforma em nada.
É tão somente saudade do que não te disse, do que não me chegaste a dizer. De tudo o que deveríamos ter vivido, de todas as conversas, porque ainda havia tempo, e depois partes aos cinquenta e um anos, e deixas-me para aqui neste desassossego de alma, nesta culpa tão profunda do que não disse.
Queria tanto abraçar-te de novo, meu pai! Encostar a cabeça no teu ombro, envolvida pelo teu perfume e sabendo de antemão o quanto te incomodava qualquer manifestação de ternura. Se fosse hoje, se eu pudesse voltar atrás por breves minutos, cobriria o teu rosto de afagos e beijos molhados, e dir-te-ia vezes sem conta: amo-te! Talvez por isto tudo, não me canso de dizer aos meus filhos o quanto os amo.
Não creio que eles compreendam esta necessidade absurda. Mas não me importo. Temo partir de repente, como tu, e não lhes ter feito sentir que eles são tudo para mim, absolutamente tudo.
As pessoas não choram assim passados tantos anos. Ou talvez eu esteja errada. E alguém quando ler este texto reconheça a dor na alma, a dor imensa da ausência de quem se ama.
Que importa? Hoje sonhei contigo. Sorrias para mim.
In Para ti, do fundo do meu coração
Editora Clube do Autor