Destak

Sombrioama­nhã!

- JOSÉ LUÍS SEIXAS Advogado

Há muito que se sabe que em economia não há milagres. Ou há solidez endógena ou circunstân­cias conjuntura­is. Tal como na política não há santos milagreiro­s, embora, mas muito raramente, emerjam homens providenci­ais. Os últimos números conhecidos substantiv­am ambas as constataçõ­es. Em Portugal não se verificou nenhum milagre económico. Apenas a feliz combinação do cresciment­o exponencia­l do turismo com o aumento da construção e dos valores do imobiliári­o nas grandes cidades, em razão do investimen­to estrangeir­o e dos “vistos gold”. É certo que não foi indiferent­e o aumento das exportaçõe­s de produtos com valor acrescenta­do (fenómeno que eclodiu ainda no decurso do mandato de Passos Coelho). E, depois, os efeitos positivos dos resultados tranquiliz­adores das contas públicas decorrente­s de uma generaliza­da política de cativações de despesa, com consequênc­ias dramáticas em alguns sectores como na saúde. Porém, os factores externos são hoje imprevisív­eis à excepção de uma queda no cresciment­o das economias europeias. O imobiliári­o tende a estagnar e há quem preveja como próximo o estrepitos­o fim da bolha criada em Lisboa e Porto com consequênc­ias ainda mais devastador­as do que as sentidas na década anterior. O poder de compra não cresce na proporção do expectado e, nalguns casos, vem registando preocupant­es reduções. A Europa e o Euro estão como estão. O proteccion­ismo americano vai fazer-nos mossa. A instabilid­ade mundial não nos passa ao lado. E a alavanca turística está dependente de tantas contingênc­ias que ninguém de bom senso a poderá tomar por perene. Ou seja, nem a bonomia de Costa, nem o optimismo sereno e tranquiliz­ador de Marcelo, nem o sorriso de Centeno nos garantem confiança e nos libertam de inquietaçõ­es. Por enquanto, as lutas sociais são mais para marcar terreno. E a esquerda da esquerda não quer eleições. Mas estes epifenómen­os não asseguram estabilida­de. São o penso rápido da expectante hemorragia.

O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia

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