«Deve-se saber quando confiar no instinto»
Shailene Woodley é de uma intensidade impressionante. E volta a demonstrá-lo no filme “À Deriva”, que hoje estreia nos cinemas nacionais. A atriz fala de como a água marca a sua vida e das lições que nos pode dar.
Acaliforniana Shailene Woodley já teve tantas boas oportunidades na vida. Que bom para nós saber que essas oportunidades foram calhar ao colo de quem tem tanta arte dramática misturada com sabedoria de vida. Desde jovem queaindústriadaimagembaseadaem Los Angeles lhe coloca as proposições mais difíceis, aquelas que se querem angustiadas e atentas ao pulso das novas inquietações juvenis. Depois de ter sido descoberta pelo grande público televisivo no Secret Life of The American Teenager, sobre as ondas perturbantes que se levantam na vida de uma jovem que engravida aos 15 anos de idade, ficou feita estrelinha de cinema e novo talento a observar ao perto. O salto airoso da fama face ao cinema? Isso aconteceu quando, ao lado de George Clooney, fez de Alex, 17 anos, filha de pai distante e mãe recentemente desaparecida, triste dentro de um bikini e a gritar dentro da água de uma piscina contida, num Havai paradisíaco e prestes a ser entregue ao capitalismo de rapina. A carreira dela tem muito disso: a raiva contra a realidade, juntamente com a inteligência por trás de olhos que preferem amar de morte. Felizmente, a Shailene gosta de se manter ocupada no meio de todo aquele recurso natural – ainda há dias apareceu como âncora moral e misteriosa no Big Little Lies, mais uma parceria que provou o seu virtuosismo face a colegas mais velhas e oscarizadas. Esta semana, outra pepita: uma aventura horrorosa sobre mares altos, tufões e mortes enfrentadas de perto. Esta mulher só se atira lá do alto e só está interessada nas profundezas. PS: A moça, que há tempos foi presa porque se colocou ao lado das tribos índias e contra a indústria petrolífera, está a passar por uma fase feliz, uma vez que conheceu o novo namorado, um jogador de rugby das Ilhas Fiji, no hotel em que ficou alojada durante as filmagens desta aventura em mar alto. A sereia está viva!
Sou filha da água. Nasci dentro de água. Se calhar é por isso que sinto uma afinidade enorme com cursos de água, com o mar, os rios, os lagos, mesmo a chuva. Água é um elemento que me inspira. Mesmo a um nível artístico, e sem querer ir por uma via demasiado metafórica, ao fazer este filme reparei outra vez que estamos todos à mercê do poder da água. O oceano pode dar cabo de ti, de um momento para o outro. Ou pode, também de um momento para o outro, levantar-te para a vida. Cabe-nos a nós tentar entrar em consonância com o oceano. É preciso entender a linguagem que ele comunica. Para nós, humanos, é importante perceber quando devemos confiar no instinto, quando ir com a corrente, quando chega o momento de dizer que as ondas são demasiado altas e a corrente demasiado perigosa na maneira como nos pode puxar para baixo.
Dá consigo, frequentemente, a ver a floresta e não só a árvore? Parece que tem uma maneira de falar muito poética, cheia de metáforas sobre a vida…
Usar o trajeto do filme como filosofia de vida acaba por ser uma maneira muito bonita de ver a nossa existência. Não é por acaso que alguns dos maiores filósofos e pensadores, de Thoreau a Emerson, viram a natureza como uma musa capaz de ensinar coisas que devem ser mesmo aplicadas no dia a dia das pessoas. Fazer este filme foi apenas uma maneira que eu encontrei de regressar a esse estado de espírito. Por vezes acho que andamos todos demasiado desligados no mundo natural e daquilo que interessa, apenas porque nos mantemos demasiado distraídos com as armadilhas do mundo materialista.
A história assenta em acontecimentos da vida real. Chegou a ir falar com a Tami, a senhora na qual a sua personagem se ba-