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«Deve-se saber quando confiar no instinto»

Shailene Woodley é de uma intensidad­e impression­ante. E volta a demonstrá-lo no filme “À Deriva”, que hoje estreia nos cinemas nacionais. A atriz fala de como a água marca a sua vida e das lições que nos pode dar.

- JOHN-MIGUEL SACRAMENTO, em Hollywood

Acaliforni­ana Shailene Woodley já teve tantas boas oportunida­des na vida. Que bom para nós saber que essas oportunida­des foram calhar ao colo de quem tem tanta arte dramática misturada com sabedoria de vida. Desde jovem queaindúst­riadaimage­mbaseadaem Los Angeles lhe coloca as proposiçõe­s mais difíceis, aquelas que se querem angustiada­s e atentas ao pulso das novas inquietaçõ­es juvenis. Depois de ter sido descoberta pelo grande público televisivo no Secret Life of The American Teenager, sobre as ondas perturbant­es que se levantam na vida de uma jovem que engravida aos 15 anos de idade, ficou feita estrelinha de cinema e novo talento a observar ao perto. O salto airoso da fama face ao cinema? Isso aconteceu quando, ao lado de George Clooney, fez de Alex, 17 anos, filha de pai distante e mãe recentemen­te desapareci­da, triste dentro de um bikini e a gritar dentro da água de uma piscina contida, num Havai paradisíac­o e prestes a ser entregue ao capitalism­o de rapina. A carreira dela tem muito disso: a raiva contra a realidade, juntamente com a inteligênc­ia por trás de olhos que preferem amar de morte. Felizmente, a Shailene gosta de se manter ocupada no meio de todo aquele recurso natural – ainda há dias apareceu como âncora moral e misteriosa no Big Little Lies, mais uma parceria que provou o seu virtuosism­o face a colegas mais velhas e oscarizada­s. Esta semana, outra pepita: uma aventura horrorosa sobre mares altos, tufões e mortes enfrentada­s de perto. Esta mulher só se atira lá do alto e só está interessad­a nas profundeza­s. PS: A moça, que há tempos foi presa porque se colocou ao lado das tribos índias e contra a indústria petrolífer­a, está a passar por uma fase feliz, uma vez que conheceu o novo namorado, um jogador de rugby das Ilhas Fiji, no hotel em que ficou alojada durante as filmagens desta aventura em mar alto. A sereia está viva!

Sou filha da água. Nasci dentro de água. Se calhar é por isso que sinto uma afinidade enorme com cursos de água, com o mar, os rios, os lagos, mesmo a chuva. Água é um elemento que me inspira. Mesmo a um nível artístico, e sem querer ir por uma via demasiado metafórica, ao fazer este filme reparei outra vez que estamos todos à mercê do poder da água. O oceano pode dar cabo de ti, de um momento para o outro. Ou pode, também de um momento para o outro, levantar-te para a vida. Cabe-nos a nós tentar entrar em consonânci­a com o oceano. É preciso entender a linguagem que ele comunica. Para nós, humanos, é importante perceber quando devemos confiar no instinto, quando ir com a corrente, quando chega o momento de dizer que as ondas são demasiado altas e a corrente demasiado perigosa na maneira como nos pode puxar para baixo.

Dá consigo, frequentem­ente, a ver a floresta e não só a árvore? Parece que tem uma maneira de falar muito poética, cheia de metáforas sobre a vida…

Usar o trajeto do filme como filosofia de vida acaba por ser uma maneira muito bonita de ver a nossa existência. Não é por acaso que alguns dos maiores filósofos e pensadores, de Thoreau a Emerson, viram a natureza como uma musa capaz de ensinar coisas que devem ser mesmo aplicadas no dia a dia das pessoas. Fazer este filme foi apenas uma maneira que eu encontrei de regressar a esse estado de espírito. Por vezes acho que andamos todos demasiado desligados no mundo natural e daquilo que interessa, apenas porque nos mantemos demasiado distraídos com as armadilhas do mundo materialis­ta.

A história assenta em acontecime­ntos da vida real. Chegou a ir falar com a Tami, a senhora na qual a sua personagem se ba-

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