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«O código moral desta história é muito sério»

Lenda viva da 7ª Arte afro-americana e nome maior do cinema “Made in USA”, Spike Lee está de volta e, como sempre, pretende agitar as águas: com o novo e aclamado “Blackkklan­sman” o cineasta regressa à boa forma.

- JOHN-MIGUEL SACRAMENTO, em Hollywood

Nasceu em 1957. Peixes. Mudou para sempre, quando irrompeu em cena nos finais de 1980 com os clássicos She’s Gotta Have It e Do The Right Thing, a maneiracom­otodoocine­maamerican­o passou a retratar a minoria negra, essa parte vital da América e de todos nós. Desde essa altura que, autor, tem insistido num estilo penetrante, de volume no máximo, com as doses necessária­s de grito e grafismo, panfleto, protesto e ultraje. A sua nova obra magna aparece numa época em que a Casa Branca tem um ocupante incapaz de se insurgir enquanto os neonazis de Charlottes­ville vão cortando o país com fachos acesos. Bónus especial: este vibrante e inacreditá­vel conto de terror e comédia chamado Blackkklan­sman tem, como é hábito na obra de Spike Lee, apresenta grandes trabalhos dramáticos, guarda--roupa, música, nervo e graça, tudo entregue sem discurso moralistao­umartelada­ideológica,apesarde a mensagem ser absolutame­nte pertinente. O mestre está de volta, sem dar tréguas e sem aceitar o cliché do discurso oficial. Bem haja.

Explique: como conseguiu fazer um filme que equilibra tão bem a mensagem política com a necessidad­e de entreter a plateia?

Ainda bem que o filme, como peça de entretenim­ento, consegue fazer isso mesmo: divertir uma plateia. Mas note igualmente que nem tudo neste filme é feito para, simplesmen­te, divertir pessoas que se sentem aborrecida­s. O código moral que a história encerra é muito sério. Não é a primeira vez que faço as coisas assim. O mesmo já acontecera com Do The Right Thing – o que temos ali é uma história de grande gravidade e que termina, como se lembrará, com o estrangula­mento mortal de Radio Raheem às mãos da polícia de Nova Iorque. Mesmo no caso de alguns dos filmes que são agora considerad­os clássicos, como é o caso do A Laranja Mecânica, do Stanley Kubrick, tinham uma grande componente cómica apesar de o tema de fundo ser o fim de mundo tal como ele tem existido até agora. Mesmo um dos seus atores prediletos, o Peter Sellers, caminhou sempre ao longo desse precipício que separa a comédia dos temas de grande gravidade social e moral. Este tipo de exercício é realmente uma grande acrobacia.

Se o presidente Trump visse este filme, como acha que reagiria?

Boa pergunta, até porque desde o início do cinema que a Casa Branca tem organizado vários visionamen­tos de filmes. O grande clássico Birth ofa Nation, do realizador D. W. Griffith, foi projetado numa das salas da Casa Branca durante o mandato de Woodrow Wilson – e, como se sabe, a grande citação que saiu desse momento foi quando o presidente disse que aquele filme equivalia a «escrever as linhas da História com a luz de um relâmpago». Mas não sei se o Trump se vai mostrar disponível para ver este filme. Devia ver. Ele e todos os que o rodeiam.

Mas a história é verídica? Parece, de fio a pavio, uma comédia…

Um livro a contar tudo acabou de ser reeditado. Também pode confirmar tudo através das declaraçõe­s proferidas pelo próprio grão-duque e mestre do Ku Klux Klan, David Duke.

«Ainda bem que o filme, como peça de entretenim­ento, consegue fazer isso: divertir uma plateia»

Tudo aquilo foi dito assim? Aquelas coisas sobre a superiorid­ade e inferiorid­ade das raças, sobre a origem e etnia?

Tudo verdade. Fatual.

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