Sobre Serena, Carlos e os desequilíbrios
Já quase tudo se escreveu sobre o caso entre Carlos Ramos e Serena Williams e nesta pequena tempestade que se formou, com centenas de opiniões desequilibradas, há uma honrosa exceção: o texto de opinião assinado por Martina Navratilova no New York Times.
Navratilova, tal como Serena, sabe o que é lidar com discriminação sendo uma mulher e jogadora de ténis. Nos anos 80 assumiu a homossexualidade e sofreu na pele a coragem que teve. E por isso, talvez mais do que ninguém, tem propriedade para dizer que não, Serena não tem razão quando leva a discussão sobre o jogo para o sexismo mas que sim, as mulheres, em geral, continuam a ser discriminadas no ténis, bem como em outros desportos.
E depois, há algo muito importante que a antiga tenista norte-americana nascida na ex-checoslováquia diz sobre o caso: o nosso comportamento não deve ser justificado por aquilo que os outros fazem. Se os homens dizem coisas tão ou mais graves que Serena isso em nada justifica o que a norte-americana disse a Carlos Ramos durante a final – e eu, confesso, não me lembro de ver qualquer tenista homem chamar «ladrão» e «mentiroso» a Carlos Ramos.
O árbitro português, já está mais que provado, é tão duro enquanto árbitro para homens como para mulheres. Já tirou pontos a Nadal, por exemplo. Serena perdeu um jogo porque rescindiu. O resto, são questões subjetivas. Será que Carlos Ramos poderia ter sido mais suave na hora de aplicar as regras, regras essas que, diga-se, estão escritas nos livros da ITF [International Tennis Federation]? Talvez, mas tal como Navratilova diz, nunca saberemos se isso evitaria tudo o que se passou a seguir.