«Quando dei comigo a festejar os 27 anos de idade, acordei com a certeza de que não sabia nada»
Exemplo precisa-se. Em que frentes dessa batalha feroz – a batalha diária para tornar a vida numa experiência mais fácil e funcional – é que vê algum progresso? Comecemos por um espaço íntimo como a gaveta onde guarda os produtos de maquilhagem. Está contente com esse tal trabalho que tem feito ao longo dos, como referiu, últimos meses?
Devido ao tal esforço de simplificação, tenho passado uma razia nos produtos de beleza. Agora só tenho quatro ou cinco perfumes. Mas os batons para lábios são mais pequenos. Posso ter mais porque ocupam menos espaço. O que quero dizer é isto: vai sempre haver na minha casa-de-banho um armário só para batons, sejam eles às cores ou para o cieiro, para dar um efeito polpudo em estilo gloss ou, simplesmente para dar mais gradação cromática aos lábios. Batons são diferentes. Merecem uma exceção.
E no oráculo vital, também conhecido por armário da roupa? Que razia fez aí?
O meu guarda-roupa cobre muitos estilos e épocas. Tem de tudo. Há uma secção dedicada exclusivamente às peças que fui colecionando pelo mundo fora, coisas curiosas, lindas, encontradas nas mais variadas lojas. Tenho, veja lá, umas botas de cowboy que comprei numa lojinha em Paris. São as minhas botas prediletas. Mas é difícil não acumular. Sobretudo nesta indústria, quando temos de viver debaixo de uma grande exposição pública. Estão sempre a mandar-nos coisas novas para usar. Agora, com as novas regras de funcionalidade e simplificação, até a minha assistente em questões de guarda-roupa vai ter dias mais facilitados.
Estamos aqui a falar de beleza mas, na verdade, quero falar de mulheres subestimadas. Que acontece na sua postura quando se sente diminuída pelos outros? Como lida com isso no emprego, no cinema, na maneira com é vista pela indústria do entretenimento?
Tenho um defeito. Não será bem um defeito. É mais algo que me obstrui. Sou demasiado modesta. Isso, traduzido, quer dizer o seguinte: de uma maneira geral as pessoas não me conhecem e não conhecem o meu trabalho. Claro que este estado de coisas permite que me sente a um canto, descansada, fingindo não ver o que se passa. Mas, agora, quero que o poder me seja devolvido. Humilde serei eu sempre. Mas acho que também é importante estarmos conscientes do nosso valor. Veja o que se passa no novo movimento feminista. Eu vivia num tipo de indústria em que parecia mais fácil escolher o assento que fica bem lá longe, nas traseiras. O tipo de sítio em que uma mulher se devia manter calada. Sem voz não haveria consequências, apenas sossego. Sem voz ninguém te conseguia ouvir – e tudo estaria sempre bem. Até que percebi que não é por aí que se constrói uma comunidade. A única maneira que existe para criar a mudança e a nova mentalidade é através da voz, através da vocalização daquilo em que acreditamos. Dar voz ao pensamento é algo que nos deve encher de orgulho. É algo que nos dá poder. Por isso, a minha mensagem é: deixa que te ouçam, deixa que os outros conheçam as tuas paixões, não te envergonhes daquilo em que acreditas.
«Humilde serei eu sempre. Mas acho que também é importante estarmos conscientes do nosso valor»