“Este filme [realizado por Brady Corbett] foi feito em 22 dias. Eu fiz as minhas cenas em 10 dias”
e compositora australiana Sia?
Tivemos muita sorte em poder contar com as canções da Sia porque ela é, a meu ver, uma das grandes compositoras de música pop do nosso tempo – uma compositora que também é cantora e intérprete, o que a coloca acima de quase todo o talento que existe por aí. A sensibilidade dela foi fundamental, porque o filme é sobre uma estrela da música pop. Era importante que a narrativa contivesse canções pop sólidas e credíveis. São temas que nos ficam na cabeça, que nos põem os pés a dançar. Já conhecia a Sia antes deste filme e sempre a achei maravilhosa.
Como é que se pesquisa uma personagem com estes contornos? Imagino que não tenha conseguido falar com jovens que tenham sobrevivido a um massacre no liceu…
Infelizmente, é uma realidade que não me é estranha. A verdade é que conheço pessoas que sobreviveram a ataques terroristas e que todos os dias são obrigadas a existir com as repercussões de tais ataques. A recuperação, tanto a mental como a física, é algo que se estende pela vida fora. Acho, aliás, que é uma pena não haver um maior diálogo público sobre estes casos, precisamente porque os danos causados pela violência atingem sempre proporções extraordinárias.
Como foi voltar a trabalhar com um ator como o Jude Law?
Pois, é o quarto filme que faço com ele. Já tínhamos colaborado no Cold Mountain, tinha eu 17 anos. Tenho agora 37. Ou seja, há 20 anos que trabalhamos juntos. Depois disso ainda fizemos o Closer. Pouco tempo mais tarde – não que tivéssemos cenas juntos – participámos outra vez numa mesma obra, o My Blueberry Nights, do Wong Kar-wai. Que acho dele? Acho que é um dos melhores atores que temos. E um dos mais amáveis. Terno, simpático, com quem podemos improvisar em segurança. Este filme foi feito em 22 dias. Eu fiz as minhas cenas em 10 dias. Logo no primeiro dia de trabalho, a primeira cena que fizemos foi a do ‘meltdown’ emocional por causa das drogas. No motor tive de meter logo a mudança mais veloz, a da completa loucura. Pude atirar-me ao trabalho sabendo de antemão que ele nunca me iria achar idiota ou esquisita. Se, quando estou a contracenar com o Jude, lhe atiro uma bola inesperada, ele devolve com a mesma espontaneidade e criatividade. Conseguimos tentar coisas novas, jogar com as possibilidades, sempre em uníssono. Tudo em 10 dias, com o Jude. Foi um processo marcado por uma espécie de velocidade furiosa, como uma travessia no desconhecido. Desde logo, achei que a história retratava exatamente este momento que vivemos nos Estados Unidos da América. Li o guião e pensei logo “Deus do céu, isto reflete exatamente o período que estamos a atravessar” – sem nunca nos martelar a mensagem na cabeça. Olhamos para o trajeto daquela pessoa e percebemos o que é viver neste século XXI.
“A verdade é que conheço pessoas que sobreviveram a ataques terroristas”