A tanga da hospitalidade
Opaís da bola vaticinava, quase sem reservas, o triunfo do FC Porto em Alvalade e a prolepse de um campeão anunciado. Eram quase duas dezenas de triunfos consecutivos, indicativo insofismável de uma equipa pujante, talentosa e ganhadora. O Sporting contrariou as previsões, impondo uma igualdade, que até assentou bem, num despique sem notas ou apontamentos de excelência, inclusive modorrento a largos espaços.
Ainda assim, terminada esta primeira volta da competição, a turma da capital nortenha desfruta de um avanço e de um embalo pouco susceptíveis de neutralização, por mais que Benfica, Braga e Sporting se recusem, legitimamente, a rubricar uma declaração de renúncia à conquista do título nacional.
“O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias”. A frase de Sofia de Mello Breyner, nesta altura, no que ao futebol diz respeito, parece desajustada. A maravilha de um provável bicampeonato parece bem mais adquirida do que as improváveis angústias do insucesso. O FC Porto tem tudo a seu favor, desde a quietude da liderança à estabilidade associativa, passando até pela benevolência excessiva (Alvalade foi uma isolada antítese) do edifício que superintende a arbitragem.
Falta a segunda volta da Liga. No seu reduto, vantagem acrescida, o FC Porto receciona Benfica e Sporting. Há anos, muitos anos, Ramalho Ortigão deixou escrita uma reflexão. “O portuense não gosta de Lisboa (…); de Lisboa vinga-se, recebendo os lisboetas com amável hospitalidade e com a mais obsequiada bizarria”. Na bola, farta certeza, mais ainda este ano, com intratável hospitalidade e com a mais obsequiada autocracia. Ainda que o Braga não mereça ser apagado do mapa dos notáveis, Benfica e Sporting só podem ter motivos para temer sentenças no púlpito do Dragão.