Destak

“Uso o extraordin­ário do que nos rodeia”

Tudo começou com surgindo 16 anos depois Agora, o mestre da surpresa, M. Night Shyamalan, com a ajuda de três personagen­s emblemátic­as, regressa com o novo

- JOHN-MIGUEL SACRAMENTO, em Hollywood

Os dias dourados continuam reluzentes. Depois dos presentes de Natal e do espumante do Ano Novo, a festa mágica da vida continua: sim, é mesmo verdade, o grande M. Night Shyamalan está de volta, qual estrela divina. Veio apresentar a sua mais nova obra cerebral com belas imagens em movimento. O filme chama-se Glass. Nem mais. Com toda a transparên­cia, deixa-nos inspeciona­r finalmente um génio macabro cuja fragilidad­e física não podia ser mais debilitant­e e que já havia causado bastantes estragos no filme Unbreakabl­e. Os dias reluzentes continuam, então, desta maneira: bemvindo Samuel Jackson, bem-vindo Bruce Willis, bem-vindo M. Night dos sustos infernais, bem-vindo sejais todos ao território do thriller e da reviravolt­a final. Este ano já não vai ser justo pedir mais nada. Ficam os desejos todos entregues.

Foram 19 anos a fazer esta trilogia. Como é que estes filmes foram alinhados na sua cabeça ao longo deste tempo todo?

A resposta a isso vem de um lugar muito complicado dentro da minha cabeça. Durante 14 anos achei que não iria regressar aos temas do Unbreakabl­e. A receção ao primeiro filme foi divisiva, se calhar fiquei magoado, se calhar achei que fazer uma série baseada no imaginário da banda desenhada não era boa ideia. Seja como for, fui trabalhar noutras coisas depois do Unbreakabl­e, como foi o caso do filme Sinais. A partir desse ponto comecei a fazer filmes mais contidos. Fiz o The Visit, fiz o Split. Foi assim que a ideia da trilogia nasceu. Entretanto, como sabe, o universo da banda desenhada tomou conta de um certo cinema feito com grandes orçamentos. A situação é diametralm­ente diferente. Por isso, voltei aos apontament­os que tinha escrito em 1999, por ocasião do Un- breakable. Reparei que as histórias poderiam ser encadeadas. O primeiro filme foi mais sobre a personagem do Bruce Willis, o David. O segundo da trilogia, Split, era mais sobre a personagem do Kevin Wendell Crumb, ou seja, sobre um homem violento, dono de um grande humor mas totalmente desadequad­o à situação de gravidade que estamos a testemunha­r, uma coisa esquisita. Desta vez, para o completar do tríptico, decidi que a história incidiria sobretudo na terceira personagem, o Elijah. Ora bem, como estamos a falar do Elijah, teria de ser algo completame­nte diferente, algo majestátic­o, com um tipo de trama dramática semelhante a um torneio imperial de xadrez. Foi assim que as três histórias se foram encaixando umas nas outras dentro da minha imaginação.

No cinema contemporâ­neo os heróis da Marvel são apresentad­os como insuperáve­is, invencívei­s, enormes. Os seus são humanos e reconhecív­eis. É assim que vê o mundo?

Pois, a premissa dos três filmes sempre foi essa. Queria que os heróis destas histórias fossem vistos como reais. Mais do que isso, queria que os meus filmes contassem histórias do mundo real e que os fenómenos presenciad­os espelhasse­m as coisas que, naturalmen­te, existem de maneira extraordin­ária neste mesmo mundo que habitamos. Foi por aí que a história começou: imagine uma deficiênci­a genética tão grave que, para fraturar um osso, basta a pessoa tocar ao de leve num objeto. É esse o destino da personagem do Samuel Jackson, Glass. Tem uma estrutura óssea tão frágil que quase não pode viver a vida de todos os dias. Mas, por outro

“Queria que os meus filmes espelhasse­m as coisas que existem neste mundo que habitamos”

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