“O amor é universal e transversal”
O novo de Barry Jenkins, prova que as tensões raciais e sociais nos EUA não mudaram assim tanto nas últimas décadas. Falámos com Regina King, a poderosa atriz afro-americana
Abram alas que chega agoraumaatriztotal,regina King. Fica-lhe tão justo o nome apinhado de realeza. Começou na televisão a fazer comédia mas, numa reviravolta tão pouco comum em Hollywood, conseguiu transitar para o território dramático onde se tem imposto com uma intensidade rara. Esta semana, no novoifbealestreetcouldtalk-seesta Rua Falasse é ela quem carrega o fardo mais pesado ao fazer de mãe numa história escrita pelo grande James Baldwin e realizada pelo oscarizado Barry Jenkins. Como vai sendo habitual no seu cortejo de pérolas dramáticas, a rainha King oferece-nos graciosidade cheia de firmeza digna. No domingo é bem capaz de subir ao palco para receber o Óscar de melhor atriz secundária. Lux Regina!
Espere, que traz vestido? Muito airoso ....
É um vestido da Rhea Costa, uma criadora romena. Hoje venho com um vestido muito bonito. Mas, no dia a dia, sou o tipo de mulher que usa coisas práticas e ténis nos pés. Devia ver o meu guarda-roupa desportivo. Excelente e rigoroso. Talvez o melhor do bairro. [risos]. Se eu pudesse criar moda em que os ténis condizem perfeitamente com os vestidos bonitos, seria isso que eu fazia. Mas também gosto da parte feminina de arranjar as unhas, ir ao cabeleireiro e passar uns momentos em paz enquanto alguém nos massaja simpaticamente o escalpe... tudo isso eu amo. Ou seja, num mundo perfeito, teria estes cuidados todos comigo e, depois, saía à rua com um fato aerodinâmico da Nike ou algo assim.
Lembro-me de, num episódio da série American Crime, a personagem do seu filho ter sido acusada pela polícia e ser considerada suspeita. Neste filme também há esse elemento: a felicidade
No caso da minha personagem na série American Crime, sim, confesso que esse lado da narrativa me atraiu imenso. Já para este filme, a minha surpresa foi mais para o lado contemporâneo de uma história escrita pelo James Baldwin em 1974 mas que, em 2018, continua absolutamente relevante. Portanto, antes de mais nada há isso. Senti uma grande admiração pelo trabalho do James Baldwin e a parte que mais me seduziu foi o facto de o realizador Barry Jenkins ter posto um ênfase especial no tema universal do amor. O meu impulso foi logo: quero fazer parte desta história, precisamente porque nas séries de televisão que abordam esse tema, seja a American Crime ou a mais recente Seven Seconds, a dor é tão grande e tão profunda que as personagens quase não conseguem fugir desse círculo vicioso. É-lhes impossível sobreviver ao historial racista e violento da experiência americana nos Estados Unidos. Desta vez achei fundamental mostrar que, se formos a ver, todo o progresso que conseguimos até agora foi conseguido através do amor. Sim, tem havido momentos muito dolorosos, mas o amor que temos pela vida, pelos familiares, pelos amigos, é o que nos tem dado a possibilidade de sobreviver. Foi como se a nossa história, antes de só passar dor, pudesse finalmente ser contada na sua totalidade.
«Achei fundamental mostrar que todo o progresso que conseguimos foi através do amor»
O Mahershala Ali, que vai ter nos Óscares um filme concorrente ao seu – por falar nisso, espero que seja uma grande noite para si e para ele! –, disse que as situações de racismo ainda