“Só sou ator porque enveredei por um caminho totalmente diferente daquele em que estava”
Vi-me, um dia, a fazer um filme com o realizador suíço Marc Forster, em África. Tinha combinado fazer um safari com uns amigos que haviam voado expressamente para a ocasião. Eles chegaram e a mim só me apetecia ficar no quarto, não ver ninguém. Encontrava-me num fosso depressivo. Sabia onde é que aquilo ia dar, como iria progredir. Sabia que o meu estado de alma iria ficar ainda pior antes de mostrar algumas melhoras. Fosse como fosse, os meus amigos tinham feito uma viagem longa só para estarem ali comigo na África do Sul. Íamos todos fazer um safari – era esse o plano. Fomos de jipe para a savana. Até que, de um momento para o outro, dei comigo a observar uma manada de elefantes. Estavam todos a menos de dois metros de mim. Uns minutos depois vi uma fêmea de leopardo com as suas crias. Um pouco depois, uma leoa com a família, tão perto, mesmo ali. Ora bem, tudo isso tocou-me tão profundamente de uma maneira tão pura que me foi possível, por fim, dar perspetiva aos meus problemas. Lembro-me bem. Poderia ter saído da minha depressão com a ajuda de uma festa e de umas gargalhadas. Mas não foi isso que aconteceu ali. O que senti foi uma ligação com o reino da Natureza. Devia ter percebido logo, sem grande surpresa. Na minha vida tem sido sempre a Natureza a providenciar o caminho de regresso quando me sinto mal.