Desculpa mãe
Aminha mãe partiu. Finalmente. Só quando passamos por esta impotência de ajudar quem nos é próximo é que compreendemos esta dor que se agarra ao peito e não sai.
Foram anos em que rezei para que ela pudesse dizer adeus a esta existência.
Não estamos nunca preparados para ver um ser humano perder-se dentro dele mesmo, desaparecer um bocadinho todo os dias, até não restar nada.
Mas esse nada respira, tem os olhos abertos e fixos em nós, tenta falar e não consegue juntar as letras e fazer uma palavra. E depois veem os tubos para que consiga comer.
E nós a olharmos para quem nos deu a vida, e se despede da vida sem partir. E os dias, as semanas, os meses prolongam-se e noite e dia não conseguimos pensar em mais nada.
A imagem daquele corpo inacreditavelmente magro, daqueles olhos que parecem pedir-nos ajuda, enchem-nos os dias e as noites de imagens que não desaparecem. Que mesmo agora que ela partiu não desaparecem.
Há anos atrás, no início deste processo, recordo as palavras da minha mãe: filha ajuda-me que eu estou a ficar muito confusa!
Não a consegui ajudar. E acreditarei sempre que no nevoeiro que era sua mente, ela continuou até ao fim a pedir-me ajuda.
Desculpa mãe.
Descansa finalmente em paz.