Portalegre está de luto e unida na ajuda às famílias
Mais de 70 familiares de vítimas mortais passaram pelo gabinete de apoio criado pela câmara. Hoje a ajuda psicológica fica suspensa para se realizarem, na sé, os funerais de oito das 11 vítimas
No cemitério de Portalegre já há pelo menos oito campas abertas para os corpos que hoje serão ali sepultados. Acidade está de luto, com velórios a decorrerem em muitas igrejas da cidade: Bonfim, Santana, Santiago e Assentos. É para lá que ao longo do dia de ontem foram convergindo os passos de dezenas de populares, muitos dos quais são familiares e amigos das vítimas. Dez dos 11 mortos no despiste do autocarro na Sertã residem na cidade, tomada pela comoção.
Entre os mortos há três casais: Fernando e Maria Francisca Marques, Manuel e Josefa Mandeiro, Agostinho e Zulmira Anjo. Dezenas de pessoas pediram ajuda a um gabinete de prevenção psicológica criado pela Câmara Municipal de Portalegre.
Durante a manhã de hoje, a sé será pequena para acolher todas as pessoas que aqui irão assistir aos funerais numa cerimónia que será presidida pelo Bispo de Portalegre e Castelo Branco, D. Antonino Dias, que ontem foi ao hospital visitar os feridos e encontrou- se com familiares dos falecidos a quem expressou “comunhão na dor, no sofrimento e na fé”.
“Não há ninguém que não se deixe comover pela dimensão da tragédia. Depois torna- se ainda mais difícil porque é gente conhecida”, assinala ao DN o padre João Maria, responsável pela Paróquia de São Lourenço. “Deixei às famílias uma mensagem de esperança, sem negar os sentimentos humanos. Há lugar para a revolta, para a queixa, até para a acusação a Deus há espaço. Isso é o primeiro processo para depois começarmos a aprender a lidar com a realidade”, sublinha.
Pelo gabinete de apoio da Câmara de Portalegre passaram mais de 70 pessoas. “Primeiro foram familiares a procurarem informações sobre o que se tinha passado e, infelizmente, tivemos de dar algumas más notícias. Depois passámos para um acompanhamento continuado das famílias e até de vítimas do acidente que já nos procuraram porque não se sentem bem, precisam de ajuda”, diz ao DN Miguel Arriaga, coordenador do gabinete.
Segundo o responsável, a intervenção psicológica deu lugar ao “tempo do luto”, à medida que os corpos começaram a chegar à cidade. “Durante o processo do luto, durante os funerais, não há intervenção psicológica. Há o antes e o depois, neste período não há intervenção”, assinala.
Para algumas famílias é tempo de luto. Para outras a aflição é saber notícias dos familiares que se encontram internados nos hospitais. Fonte do Hospital de Portalegre avança que os quatro acidentados que ali se encontram internados estão “estabilizados” e terão alta dentro de dias.
Dois dos sete feridos internados em Coimbra continuam com “ligados ao ventilador e com prognóstico reservado”. Outros três sinistrados internados nos HUC estão na “unidade de cuidados cirúrgicos intermédios”, enquanto duas meninas continuam a receber cuidados médicos no Hospital Pediátrico “internadas no serviço de ortopedia e estão estáveis”.
No Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco, permanecem cinco feridos, todos com mais de 47 anos, com fraturas ósseas e traumatismos torácicos e abdominais, referiu a diretora clínica Rita Resende. Duas mulheres e um homem estão no serviço de observação, enquanto outro homem e outra mulher se encontram no serviço de cirurgia, entre os quais o motorista, acrescentou. Apesar de estarem estáveis e conscientes, não há previsão de alta.
A mulher do condutor do autocarro, Ana Paula Milho, volvidas mais de 24 horas após a tragédia, recusa agora falar do acidente. Ela que, depois de ter sido a primeira a ter alta das urgências dos Hospitais da Universidade de Coimbra, conseguiu descrever, passo a passo, o despiste do pesado fretado para a excursão. A filha do casal, que também foi assistida no Pediátrico de Coimbra, “está bem”.
5