Diário de Notícias

Viagens entre “amigos que sugeriam destinos”

EXCURSÃO Organizado­r diz que se inscreveu nas Finanças mas não no Registo Nacional de Agentes de Animação Turística

- CÉU NEVES

1. Manuel Salvador perdeu a mulher. O autocarro seguia “com muita velocidade”, diz 2. Familiares das vítimas ainda estavam ontem em choque com a tragédia 3. Liliana Rijo morreu com a filha de dois anos no colo. A criança foi assim protegida do choque e sobreviveu Em novembro tinham ido a Guadalupe, Espanha, em dezembro visitado o presépio de Penela e, no domingo, partiram às 06.15 para ver o presépio de São Paio de Oleiros, em Santa Maria da Feira, esperando regressar a casa ao início da tarde. Luís Barbas é o organizado­r destas viagens e disse ao DN que muitos dos ocupantes já eram seus amigos. “Eles próprios sugeriam os destinos.” Seguia no meio do autocarro, sem cinto, e sofreu escoriaçõe­s.

O último “passeio/ convívio” previa a chegada a Santa Maria da Feira por volta das 10.30, também uma visita ao Museu da Cortiça e almoço, tudo por 43 euros, mas o autocarro em que seguiam despistou- se na IC8, perto da Sertã, eram 08.26. Os panfletos de propaganda são uma folha A4 e indicam entre parêntesis “43 viagens”, o que se deduz ser o valor da excursão, mas Luís Barbas não confirma. Também apontam para esta ser uma organizaçã­o de eventos turísticos informal.

Luís Barbas, 42 anos, motorista de pesados, diz estar “coletado” nas Finanças para esta atividade, mas desconhece que se devia ter inscrito no Registo Nacional dos Agentes de Animação Turística, pagar de uma taxa e ter um seguro, como estipula o decreto- lei n. º 108/ 2009. “A empresa proprietár­ia do autocarro tem seguro para os passageiro­s. Eu só organizava passeios de um dia, quando eram mais dias entrava em contacto com uma agência de viagens”, justifica.

Foi pai na sexta- feira e só por isso não foi acompanhad­o da mulher, mas tinha consigo a filha de dez anos. Sofreu algumas escoriaçõe­s e saiu do hospital no domingo, não tendo, ainda, sido ouvido sobre as condições em que seguiam os passageiro­s.

“O autocarro deu um salto, o motorista gritou e, como também sou condutor de pesados, percebi que a partir daí o motorista já não controlava o autocarro”, conta Luís Barbas, residente em Portalegre. Vinha no meio do autocarro e não trazia cinto de segurança, mas recusa- se a atribuir a esse facto o número elevado de mortes em consequênc­ia do acidente. “A minha prima vinha à frente, tinha cinto e partiu as costelas. O problema foi que o autocarro capotou”, explica.

Tal como os outros passageiro­s, conhecia bem o motorista, Marco Correia, português de uma localidade Castelo de Vide e que há cerca de sete anos tinha decidido ir trabalhar para a empresa espanhola Rabazo Autocares. Chegou a ser funcionári­o da Câmara de Castelo de Vide como motorista. Encontra- se no hospital de Castelo Branco com prognóstic­o reservado, disse ao DN um seu familiar.

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