Diário de Notícias

Eliana matou os filhos depois de os perder na justiça

Tragédia. Na quarta- feira, juiz retirou- lhe o poder paternal dos filhos. No domingo, envenenou- os com bolos e suicidou- se por asfixia

- RUTE COELHO com RITA CARVALHO

Ruben, 11 anos, e David, 12, foram passear com a mãe, pela última vez, no sábado. Eliana Sanches, 40 anos, levava no Opel Astra o lanche para os dois: uma caixa com bolos envenenado­s. O plano de matar os filhos e de acabar com a própria vida estaria traçado desde quarta- feira, dia em que soube da decisão do Tribunal de Família e Menores – apoiada por um parecer da Segurança Social – de entregar o poder paternal das crianças ao pai, Rui Santos, o ex- marido de Eliana, a residir atualmente no Funchal. A decisão judicial terá sido a gota de água para Eliana Santos, que atravessav­a uma depressão severa.

No sábado, a mulher pegou nos filhos e foi no seu carro até à mata da Cruz Quebrada ( Oeiras), nas traseiras da Faculdade de Motricidad­e Humana. Parou o veículo e deu de lanchar aos filhos com bolos que se suspeita envenenado­s. Depois, saiu do automóvel e andou uns 50 metros. Fez dois golpes com um bisturi, um em cada braço, enfiou um saco de plástico na cabeça e prendeu- o com fita adesiva à volta. Morreu por asfixia.

Três cartas de despedida

Eliana deixou três cartas a explicar o que fez e porque o fez: uma para a mãe, outra para o ex- marido e uma terceira para o seu atual companheir­o.

Não podia ser maior o contraste entre este fim trágico e a imagem de alegria eternizada numa fotografia no Facebook: Eliana Sanches com os dois filhos ao lado, os três a transborda­r sorrisos.

Um segurança da Faculdade de Motricidad­e Humana alertou a PSP no domingo, pelas 19.30, porque um Opel Astra estava parado, desde sábado, nas imediações dos dormitório­s da faculdade.

Para o local, no domingo, foram agentes da PSP de MiraFlores e elementos da Proteção Civil. Encontrara­m o carro e tiveram de partir o vidro. Rúben, o mais novo, estava sentado no banco do “pendura”, com um oleado amarelo por cima e apresentav­a sinais claros de envenename­nto, confirmou o DN j unto de fonte ligada ao processo. Terá sido a mãe que lhe tapou o corpo com o oleado. Fez o mesmo a David, de 12 anos, encontrado no banco traseiro. A caixa de bolos estava junto aos corpos. Faltava descobrir a mãe, o que só viria a acontecer pelas 10.00 de ontem, depois de buscas nas imediações conduzidas por equipas cinotécnic­as da PSP. Mas os agentes e os cães não precisaram de bater muito terreno. O corpo de Eliana Sanches estava apenas a 50 metros do carro e com o saco na cabeça. O bisturi com que se golpeou estava junto e foi apreendido.

Segundo apurou o DN, os indícios apontam para que Eliana tenha esperado dentro do carro até os filhos morrerem, só depois saiu para pôr termo à própria vida.

Rúben, o mais novo, estava no banco da frente, David no de trás

Comissão sinalizou crianças

A Comissão de Proteção de Crianças e Jovens ( CPCJ) de Oeiras confirmou ao DN que as duas crianças foram sinalizada­s no ano passado, depois de a PSP ter sido chamada ao apartament­o da avó materna, em Linda- a- Velha, onde crianças e mãe passavam a maior parte do tempo.

O alerta foi dado devido à suspeita de uma situação de violência doméstica, que o DN não con- seguiu precisar. Como Eliana e o ex- marido não deram o consentime­nto para a CPCJ intervir, o processo seguiu para o Tribunal de Família e Menores de Cascais.

A morada de Eliana era em São Marcos, Sintra. Mas os dois rapazes estudavam na Escola Secundária de Linda- a- Velha, muito próxima da casa da avó materna, na Rua de Ceuta, a quem estavam entregues a maior parte do tempo. David, o mais velho, praticava basquetebo­l. Eram ambos crianças alegres, cheias de vida.

No prédio onde reside Ester, a avó das crianças, a família votou- se ao silêncio e ao recolhimen­to. À porta do apartament­o, um amigo da família impediu qualquer contacto pessoal.

Avó perdeu todos de uma vez

A avó Ester soube no domingo que as autoridade­s tinham encontrado os netos mortos no interior do carro. Ainda na noite de domingo, a avó deslocou- se à esquadra da PSP de MiraFlores, tendo referido que a filha Eliana atravessav­a uma depressão. Passou essa noite sem saber se Eliana estava morta ou viva. A PSP confirmou- lhe ontem de manhã, pelas 10.00, o que já se suspeitava: estava morta. Os corpos vão agora ser autopsiado­s pelo Instituto de Medicina Legal de Lisboa.

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