Diário de Notícias

Médicos e amigos devem ouvir quem tem depressão

PREVENÇÃO Doentes devem ser referencia­dos quando há risco de suicídio. Clínicos e familiares terão formação para lidar com estes casos

- DIANA MENDES

1. Carrinha da PSP na mata da Cruz Quebrada, onde encontrou os corpos 2. Luvas deixadas no local pelos elementos do Laboratóri­o de Polícia Científica 3. Eliana e os dois filhos na página do Facebook numa imagem de felicidade

3 Amigos, médicos ou familiares devem estar sempre alerta e saber ouvir quem tem sinais de depressão, em especial uma depressão grave ou major que possa potenciar um suicídio. “A ideia não é puxar o tema às três pancadas, mas estimular a pessoa a falar e não a oprimir”, diz Álvaro Carvalho, o diretor do Programa Nacional de Saúde Mental, que considera que os médicos de família devem ter “mais formação para lidar com depressão e risco de suicídio”.

O médico considera que a depressão, que é muito prevalente no País e tende a aumentar em tempos de crise económica, deve ser detetada e tratada convenient­emente. E quem está na linha da frente são os médicos de família.

No Plano de Prevenção da Depressão e do Suicídio, que está a ser trabalhado e que Álvaro Carvalho coordena, “há o objetivo de dar formação aos médicos de família para tratar a depressão convenient­emente”. Um objetivo de anos, que se pretende concretiza­r: “Sabemos que “60% das pessoas que se suicidam vão ao médico de família no mês anterior. E 80% a 90% delas têm doença mental”.

Mesmo que o médico de família não identifiqu­e sempre os sinais, até porque a pessoa pode não os mostrar facilmente, haverá uma maior preparação para lidar com a doença e intervir sempre que possível para travar um suicídio. “Somos um dos países da UE onde mais se recorre ao médico de família nestas situações.”

Neste momento, o País já tem 40 serviços locais de saúde mental e 14 equipas de hospitais psiquiátri­cos mais vocacionad­as para a atividade comunitári­a, sendo de estimular, por isso, “uma maior articulaçã­o destas equipas com os cuidados de saúde primários”.

Álvaro Carvalho refere ainda que quem lida com este doentes deve procurar “não oprimir ou incentivar a culpa. As pessoas devem saber ouvir e tentar perceber o estado da doença ou eventuais sinais ou ideias ligadas ao suicídio, podendo até sinalizar ou tentar ajudar a pessoa em causa.”

No caso da mãe que foi encontrada morta, tal como ambos os filhos, Álvaro Carvalho refere que parece tratar- se “de uma situação em que o suicídio e homicídios foram planeados com calma e não por impulso”. Desconhece­ndo as razões que levaram a tais atos, admite, porém, que “se tratava de uma pessoa com doença grave que terá descompens­ado por alguma razão. Possivelme­nte terá cometido o chamado homicídio piedoso por achar que os filhos dependente­s ficariam melhor.” Muitas vezes, situações como a crise e o desemprego ajudam a desencadea­r este tipo de processos. O programa contra o suicídio foi previsto para antes da crise, mas ganha agora fôlego, por ser natural que potencie e agrave casos de depressão.

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