“O problema não é o ideal e o que se pretende conseguir mas a forma como se chega lá”
O atropelo de direitos fundamentais entre valores- base da sociedade e da Igreja Católica, que se agudiza em organizações do tipo do Opus Dei, é o que mais choca Ludwig Krippahl, enquanto ateísta e cidadão. O vice- presidente da Associação Ateísta Portuguesa, que ontem participou no debate realizado no auditório do Diário de Notícias que encerrou a Grande Investigação DN sobre o Opus Dei, sublinhou que “o problema não é o ideal e o que se pretende conseguir, mas a forma como se chega lá”.
Sem fazer uma declaração tão contundente quanto a do presidente da associação, Alfredo Esperança – que disse ao DN considerar o Opus Dei como uma das organizações “mais perigosas e reacionárias da Igreja Católica”–, Ludwig Krippahl evidenciou a incompatibilidade entre valores- base da sociedade ( como a liberdade de expressão, de crença e a igualdade entre os sexos) e da Igreja Católica.
Apesar de reconhecer que as pessoas podem, a qualquer momento, mudar ou deixar de ter uma religião, Krippahl destacou o constrangimento que essa opção representa: “Do ponto de vista de cada religião, isso é o pecado maior, aquilo que merece mais castigo.”
Situação que se torna mais grave quando “temos organizações em que as pessoas são obrigadas a fazer sacrifícios, a fazer um voto de obediência aos seus superiores hierárquicos”, defendeu o também professor universitário. “E nessas organizações faz- se o possível para eliminar essa liberdade individual de crença, para constranger a pessoa e obrigá- la a manter- se den- tro desses preceitos. Isso talvez seja o que me choca mais, como ateu e cidadão, neste tipo de organizações”, afirma. “É um problema em todas as religiões e na Igreja Católica em si, mas agrava- se muito quando vamos para estas organizações mais intensas, mais específicas”, sublinha.
Para o vice- presidente da associação, “o problema não é o ideal e o que se pretende conseguir, mas a forma como se chega lá”. E identifica a diferença entre associações civis e o Opus Dei. No primeiro caso, “são as pessoas que vão decidindo como é que a organização se orienta, regendo- se por princípios democráticos, de liberdade, e de separação entre o que compete à instituição e o que é do foro privado”. No segundo, “as orientações vêm de cima, há uma estrutura hierárquica que coordena as pessoas que estão mais abaixo, e não respeita a diferença entre o que é do domínio público e o que é do foro privado”. Uma situação que passa a ter contornos de “ameaça aos direitos fundamentais” quando “são exigidos sacrifícios e penitências como forma de as pessoas se empenharem cada vez mais e terem mais dificuldade de sair”. E destaca ainda outra questão: “Não é legal uma associação instituir regras sobre a vida sexual das pessoas, porque isso é do foro privado”, situação que se verifica no Opus Dei em relação aos membros numerários e agregados.
Dar à sociedade uma ideia do que é viver sem Deus – “não custa nada, não é um bicho de sete cabeças”, disse – e “mostrar o perigo que representa a demasiada importância dada ao simples facto de alguém acreditar num deus”, são dois dos objetivos da Associação Ateísta, explicou.