Presidente por acidente não tinha vocação política
Quando a cadeira de presidente da Câmara Municipal de Setúbal lhe caiu quase nos braços, Orlando Curto tinha pela frente o desafio mais ingrato da sua vida. O agitado ano de 1977 entrava no segundo semestre e nunca o jornalista sadino teria pensado em assumir tremenda responsabilidade. Mas eis que o primeiro presidente eleito em eleições livres ( no mês de dezembro de 1976) abdicou do mandato e deixou os destinos do concelho entregues ao seu “vice”. Manteve- se firme até 1980 e concluiu que a política não era a sua vocação.
Familiares e amigos garantem que Orlando Curto – que morreu no passado sábado no hospital de Setúbal, aos 84 anos – sempre olhou para o seu passado na política como uma espécie de obra do acaso, assumindo ter chegado à presidência da autarquia por “acidente”. Não queria, afirma quem melhor conhecia o ex- autarca, mas fora “muito pressionado” a aceitar o cargo, após Ernesto Vitorino ter renunciado.
Antes de se consumar a substituição, Orlando Curto detinha o pelouro da Cultura, onde queria, efetivamente, trabalhar para a cidade. Porém, já havia desempenhado, em várias sessões oficiais, as vezes do presidente, porque Ernesto Vitorino lidaria mal com a pressão provocada por algumas discussões mais acaloradas.
Mas uma vez presidente, Orlando resistiu até ao fim, num concelho em agitação social permanente, onde a esmagadora maioria dos projetos esbarrava com a falta de verbas. Respirou de alívio quando o mandato chegou ao fim e nem abriu a janela a uma eventual candidatura à câmara.
Aliás, numa entrevista concedida ao jornal digital Setúbal na Rede, relatou que no dia em que um camarada de partido foi à sua casa para lhe dizer que não concordava com a sua candidatura à autarquia, ouviu uma resposta inequívoca. “Não é preciso perderes tempo com isso, porque não quero recandidatar- me”, afirmou.
Ainda assim, viria a ocupar, por pouco tempo, o cargo de deputado na Assembleia Municipal, antes de a política ser assunto do passado. Preferiu enveredar antes pelo “contrapoder”, vindo a traduzir- se numa figura que os sadinos conheceram por ser um homem de vários interesses e atividades.
Nas principais funções que desempenhou ao longo da vida cruza- se a sua vocação para o jornalismo, tendo sido chefe de redação da Gazeta do Sul, vindo mais tarde a administrar a extinta Nova Gazeta ( do Montijo) e a escrever crónicas de opinião no Setubalense, tendo trabalhado ainda na Control Data.