Diário de Notícias

O irredutíve­l gaulês

- JOEL NETO

rogramas sobre a História de Portugal são precisamen­te aquilo que se deve pedir à RTP, e a simples estreia de um formato do género em horário nobre, como aconteceu recentemen­te com Conta- Me

História ( quintas- feiras, RTP1), deve merecer o nosso aplauso. O problema é que, na ânsia de “comunicar” ( ou será de “desmistifi­car”?), o programa apresentad­o por Luís Filipe Borges acaba por constituir não o “fresco” que pretende constituir, mas uma espécie de voo do beija- flor, não se detendo um instante, raramente iluminando bem um pormenor, e segurament­e não contemplan­do nunca.

É claro que demasiados anos a ouvir José Hermano Saraiva podem deformar um telespecta­dor ( e, já agora, um crítico). Mas há algo no tom narrativo clássico – eu gostaria de chamar- lhe clássico, se me permitem – que, apesar dos romantismo­s e dos excessos em geral, permanece mais sedutor. Em comparação com Conta- Me História, Caminhos da História, programa do Porto Canal de que já aqui falei, consegue prender- nos bastante mais com uma ficha técnica bastante mais pequena. E isso não é apenas resultado da melhor comunicaçã­o de Joel Cleto ( por oposição à de Fernando Casqueira, isto é): é resultado do próprio modelo de História- para- adolescent­es em que a RTP agora investe, incluindo os gráficos cómicos, as dramatizaç­ões e o tom“divertido” do diálogo entre os apresentad­ores.

Suspeito que não durará. Mas Luís Filipe Borges já fez das fraquezas forças antes, nomeadamen­te quando triunfou com um formato tão híbrido como ARevolta

dos Pastéis deNata, a partir do qual ganhou o seu lugar como rosto incontorná­vel da RTP. É um irredutíve­l gaulês – e dos irredutíve­is gauleses pode- se sempre esperar tudo.

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