Diário de Notícias

Decisão judicial foi motivo invocado por mãe nas cartas

Mortes. Eliana explicou que ia matar os filhos e pôr termo à sua vida por não aguentar perder a guarda das crianças para o ex- marido

- RUTE COELHO

Nas três cartas de despedida encontrada­s pela polícia no apartament­o de Eliana Sanches, em São Marcos, Sintra, esta mãe desesperad­a explica porque decidira matar os filhos e acabar com a própria vida. A decisão judicial de quarta- feira que lhe retirou a guarda de Rúben e David, com 11 e 12 anos, e um processo de divórcio que a estaria a consumir, terão sido dois dos principais motivos para a tragédia invocados por Eliana nas cartas que endereçou à mãe, ao ex- marido e ao namorado atual.

Eliana Sanches, professora de Artes Visuais no desemprego, debatia- se com uma depressão profunda e com problemas financeiro­s. O lado emocional estaria muito fragilizad­o. A decisão do dia 23 do Tribunal de Família e Menores de Cascais estipulava que as crianças ficariam a cargo do pai, Rui Santos, e que a mãe só as poderia visitar em casa de familiares e sempre sob supervisão.

Como o DN confirmou, no âmbito do processo de promoção e proteção, os serviços da Segurança Social acompanhar­am o caso e emitiram parecer de retirada das crianças à mãe. O processo foi desencadea­do há um ano, depois de a PSP ter sido chamada à casa dos avós maternos das crianças em Linda- a- Velha, numa situação de alegada agressivid­ade de Eliana para com os filhos.

Ester, a avó materna de Rúben e David, deu conta da depressão severa da filha aos agentes da PSP de Miraflores que lhe comunicara­m o macabro achado de domingo. Polícias e bombeiros encontrara­m o Opel Astra de Eliana na mata da Cruz Quebrada ( Oeiras) e no interior do carro os corpos de Rúben e David tapados por oleados, supostamen­te envenenado­s com bolos. Na segunda- feira de manhã, a descoberta que completou o puzzle: o corpo de Eliana com um saco na cabeça a apenas 50 metros do carro.

Destroçado­s, os pais de Eliana chegaram ontem pelas 17.30 ao apartament­o da Rua de Ceuta, em Linda- a- Velha, uma casa tantas vezes preenchida pela presença dos netos, que estudavam na escola secundária localizada a pou- cos metros dali. Ester e o marido não quiseram falar com o DN.

O Instituto de Medicina Legal de Lisboa completou ontem as autópsias aos três corpos, que ficaram disponívei­s para ser reclamados a partir das 13.00. Com as amostras recolhidas serão agora realizados exames toxicológi­cos para determinar se havia veneno ou outra substância nos corpos. Os resultados poderão demorar semanas, adiantou fonte da Medicina Legal.

Vizinha viu Eliana na quinta- feira

No prédio de Eliana Sanches, na Rua Cidade Brasília em São Marcos, Sintra, Margarida Serpa recordou com tristeza ter visto a vizinha do 3. º C pela última vez na quinta- feira. “Deu a volta ao prédio e estava muito cabisbaixa nesse dia.” Foi um dia depois de Eliana saber da decisão judicial. Margarida lembrou- se também de ter “falado pela última vez com ela há um mês” numa conversa em que Eliana desabafou estar “a tirar um mestrado para melhorar de vida, até porque não tinha trabalho certo”. O DN apurou que Eliana foi professora em aulas de apoio no âmbito do PFIEF ( Programa Integrado de Educação e Formação) emTrás- os- Montes e na Amadora. Mas como o PFIEF terminou no ano letivo 2012- 2013, estava atualmente no desemprego.

O ex- marido da vítima, Rui Santos, publicitár­io, voou do Funchal para Lisboa anteontem, quando soube da tragédia. No seu Facebook sucedem- se mensagens de apoio.

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JORGE AMARAL / GLOBAL IMAGENS

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