Taxistas e padres formados para lidar com a depressão
SUICÍDIO Programa Nacional para a Saúde Mental prevê sensibilização dos profissionais que estão em contacto com muitas pessoas
Taxistas, farmacêuticos, padres ou empregados de bar vão ter formação na área da depressão e do suicídio. Estes são alguns profissionais que Álvaro Carvalho designa como porteiros ou sentinelas sociais, por lidarem ou terem oportunidade de conversar e ajudar pessoas com sintomas depressivos. Em última instância poderão contribuir para travar ou ajudar a travar casos de suicídio. O que o coordenador do Programa Nacional para a Saúde Mental pretende é “sensibilizar estes atores para esta problemática, porque, ao contrário do que se pensava no passado, é importante estar disponível para ouvir”.
A ideia de apostar nos porteiros sociais já existe noutros países e integra o Plano Nacional de Prevenção da Depressão e do Suicídio, que será aprovado brevemente. Álvaro Carvalho explica que há vários atores que podem participar neste processo. “Temos os empregados nos bares, que apesar de parecer contraditório por estarem a vender bebidas podem e devem ouvir um potencial doente e até travar o consumo nestas situações. Aliás, a lei já determina que não se vendam bebidas a pessoas com perturbações”, refere.
Todos os sacerdotes, “e não apenas os católicos, podem e devem ser formados para saber ouvir sem criticar ou incutir sentimentos de culpa. A situação já é muito me- lhor, aliás a maioria dos padres estão mais alerta para isto”, refere, mas “é importante que haja mais sensibilização. Os taxistas, que metem conversa e escutam muitos passageiros, bombeiros, que lidam com casos de suicídio, ou os farmacêuticos são outros porteiros”, exemplifica.
A medida está no plano, mas ainda está a ser definida a forma de a aplicar. “Podemos dar informação sobre como lidar com a doença a estes profissionais, promovendo palestras e formação no âmbito das associações em que se inserem. A própria comunicação social será chamada a participar.”
Para isso ser concretizado tem de ser criado “um ambiente adequado para que as pessoas desabafem o seu sofrimento profundo. Só por si, isso já é aliviante”, refere o psiquiatra. Fora de questão está levar as pessoas a fazer o que não querem, “mas quando virem motivos e sinais podem sugerir a procura de ajuda, linhas de apoio ou encaminhá- las para onde possam ser tratadas”. E de todo se deve inculcar um sentimento de culpa, “em relação a filhos e outros familiares. Em regra só agravam a culpabilização. Deve evitar- se ser inconveniente”.
Aos poucos vão sendo tomadas outras medidas preventivas em locais públicos, onde se pode agir. O psiquiatra dá o exemplo da proteção em locais onde morrem mais pessoas. “Pontes, aquedutos, viadutos são exemplos. Podem ser colocadas redes, como aconteceu no viaduto Duarte Pacheco.”
As mortes por inalação de fumos têm caído, tal como as associadas a venenos ou armas. “Já tem havido algumas restrições. Os carros têm motores catalíticos”, logo os fumos são menos intoxicantes, as armas e os venenos têm vendas restritivas. “Neste âmbito podemos fazer recomendações, mas cabe a outros ministérios e às autarquias tomarem medidas.”
A crise económica e o desemprego “vão contribuir para agravar os números de depressão e suicídios”. Um estudo de 2011 de David Stuckler mostra que por cada aumento de 3% do desemprego, há uma subida de 4,45% da taxa de suicídio e de 28% nas mortes causadas por álcool abaixo de 65 anos.