Diário de Notícias

Discussões põem em risco os filhos

DIVÓRCIOS Crianças são muitas vezes encaradas como “armas de arremesso” entre os pais. Proteção de menores cada vez mais atenta

- A. B. F.

1. Eliana Sanches não aguentou a decisão do tribunal que lhe retirava a tutela dos dois filhos. Matou- os e suicidou- se 2. No prédio onde Eliana vivia, em Sintra, vizinhos contam que ela andava cabisbaixa desde que conheceu a decisão judicial 3. Os corpos dos dois rapazes foram encontrado­s pela PSP numa mata em Oeiras dentro do carro da mãe As discussões, privações de visitas e tentativa de colocar os filhos contra o outro progenitor é uma realidade a que as crianças portuguesa­s estão cada vez mais expostas. “Tem vindo a ganhar mais expressão durante estes período que vivemos, de crise não só económica, mas de valores e afetos”, aponta Teresa Espírito Santo, da Comissão Nacional de Proteção das Crianças e Jovens em Risco ( CNCJR). Por isso, as crianças nesta situação são considerad­as “em risco”.

O que leva as próprias comissões de proteção de crianças e jovens a estar “mais atentas a estas situações”. Até porque tudo aponta para o aparecimen­to de um novo problema: os casais que se mantêm na mesma casa mesmo depois de separados. “Pode ser uma situação de desorganiz­ação afetiva para as crianças”, aponta a especialis­ta. “Os miúdos não sabem com quem falar, se vão ter com o pai ao quarto dele ou com a mãe e são armas de arremesso.”

Para o juiz António Fialho, do tribunal de família e menores do Barreiro, os pais que se comportam desta forma “encaram os filhos como uma propriedad­e e não como pessoas”. A resolução destes casos passa pela mediação familiar e pela sensibiliz­ação dos pais “para que entendam os perigos constantes a que estão a expor os filhos”, apontaTere­sa Espírito Santo. Já que estes casos são muitas vezes reportados às comissões de proteção de crianças e jovens até por familiares que assistem à “pressão” que os pais exercem sobre os filhos. Estas crianças são encaradas como estando “em risco” e nos casos mais graves podem mesmo estar “em perigo”, implicando a aplicação de medidas de promoção e proteção de menores.

Mas nem sempre é possível manter estes casos fora dos tribunais. “Às vezes há pais que não percebem que estão a causar danos aos filhos e nesses casos é melhor para o bem dos filhos mantê- los afastados por ordem judicial”, refere António Fialho.

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