Diário de Notícias

Insaciávei­s apetites

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Estiveram longos meses em silêncio. Depois, pouco a pouco, foram criticando a sua falta de firmeza. Mais tarde, viram- no subir nas sondagens e assistiram à lenta queda de popularida­de do Governo. O aroma do poder estava de regresso. Era chegada a hora de cerrar as mandíbulas ( Pedro Silva Pereira abriu publicamen­te as hostilidad­es) e apeá- lo do poleiro, antes que as eleições autárquica­s lhe dessem um novo fôlego. António Costa foi sendo o homem apontado – uma escolha quase pessoal, dizem, do próprio José Sócrates e de umalegião se seguidores do anterior Governo – para protagonis­ta principal.

António José Seguro cumpriria, assim, o seu papel de líder secundário e de transição. Um plano perfeito que ignorou – ignorará ainda? – um país cada vez mais farto destas artes de finório; um recente e ambicioso secretário- geral que esperou, demorada e pacienteme­nte, pela sua vez; e os adversos cenários do candidato a candidato.

Cenário anunciado: António Costa avançaria para a liderança do partido, era candidato à Câmara de Lisboa e disputaria o Congresso Socialista. É um remake. Mais não fazia do que replicar Jorge Sampaio, que, entre 1989 e 1991, acumulou a liderança do partido com a presidênci­a da Câmara Municipal de Lisboa, mas correspond­ia, finalmente, aos que, quase esgotando a paciência, dizem esperar por ele como se de um D. Sebastião se tratasse. Neste cenário, Costa teria, pelo menos, duas dificuldad­es políticas óbvias. Primeiro, fazer campanha contra Fernando Seara ( que ganharia inesperado­s argumentos eleitorais sem mexer uma palha), sendo um“presidente” de curto prazo – o objetivo é apear Pedro Passos Coelho do poder e formar um governo socialista. Segundo, porque a tão propalada e pedida “pressão” sobre o primeiro- ministro iria em definitivo aliviar, enquanto esse “novo PS” costista arrumaria a casa.

Cenário confirmado: António Costa não avança ( agora) para a liderança do PS e é apenas o candidato a Lisboa. Desiludiu quem nele apostou, mas manteve a coerência ( e a ameaça de um regresso): “O PS precisa de um secretário- geral a tempo inteiro e o município de Lisboa de um presidente com dedicação exclusiva.” Seguro ganhou novo fôlego ( ainda que sob pressão) e, coisas da vida, contará com a “anunciada” vitória de Costa na capital.

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