Dilma pede fiscalização mais dura em discotecas
Marcha de homenagem às 231 vítimas do incêndio na discoteca Kiss juntou 30 mil pessoas em Santa Maria. A Presidente do Brasil quer garantir que a tragédia “jamais se repetirá”
Antes de ter começado a discursar perante cerca de quatro mil presidentes de câmara, Dilma Rousseff pediu ontem um minuto de silêncio pelas 231 pessoas que perderam a vida no incêndio da discoteca Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Na cerimónia de abertura do Encontro Nacional com Novos Prefeitos, a Presidente brasileira pediu fiscalização mais apertada em discotecas e outros espaços de diversão noturna.
“A dor que presenciei é indescritível. Falo dessa dor para lembrar a responsabilidade que todos nós do poder executivo temos com a nossa população. Diante dessa tragédia temos o dever de assumir o compromisso e assegurar que ela j amais se repetirá”, afirmou Rousseff, que se reuniu em privado com o autarca de Porto Alegre, cidade capital do Rio Grande, José Fortunatti. Rouseffpediu a Fortunatti que toda a atenção seja centrada nas vítimas e nos seus familiares. No domingo à tarde, quando o reconhecimento dos corpos ainda estava a decorrer no ginásio do Centro Desportivo Municipal, Dilma, que não conseguiu conter as lágrimas, visitou os feridos e falou com alguns familiares.
Por sua vez, o presidente da câmara apelou a uma maior prevenção contra acidentes como o da madrugada de domingo. “Depois da tragédia acontecida, não adianta buscarmos culpados. Na verdade, temos de resolver o problema antes”, disse aos jornalistas.
Na sequência do incêndio, quatro pessoas foram detidas pela polícia: Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, donos da discoteca, Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda que estava a atuar quando o incêndio deflagrou, e Luciano Bonilha, responsável pela montagem do palco e decoração.
O vocalista terá, durante o espetáculo, acendido um foguete de sinalização que poderá ter estado na origem do fogo.
Entretanto, os empresários Spohr e Hoffmann viram os seus bens congelados pela procuradoria de Rio Grande do Sul. De acordo com o jornal OGlobo, a medida foi justificada com a dimensão dos danos causados pelo incêndio, o número de pessoas atingidas e pelo facto de os dois homens não se terem apresentado de imediato perante as autoridades.
“Estamos atuando para garantir ações indemnizatórias no futuro”, explicou o chefe da procuradoria, Nilton Arnecke Maria, revelando que nos próximos dias deverá dar início a um processo de indemnização coletivo das vítimas e familiares.
De acordo com informações avançadas pela polícia, a discoteca Kiss não tinha condições para estar a funcionar. Desde uma única porta demasiado estreita ao desrespeito pela capacidade má-
Polícia diz que a discoteca não tinha condições para funcionar
xima do espaço, que não tinha saídas de emergência. “Nós temos diversas pistas de que a casa não podia estar funcionando. Se a boate estivesse regular, não teria havido quase 240 mortes”, afirmou o delegado regional responsável pela investigação, Marcelo Arigony, indicando que mais de mil pessoas irão ser ouvidas no processo. “Haverá a responsabilização das pessoas ou do órgão que tiver de ser responsabilizado”, disse Aragony à porta do Ministério Público.
Depois do acidente que deixou o Brasil de luto, sucedem- se manifestações de homenagem a todos os que perderam a vida, na sua maioria jovens estudantes universitários da Universidade Federal de Santa Maria. Na noite de segunda- feira, uma marcha de homenagem às vítimas levou cerca de 30 mil pessoas às ruas da cidade.
A caminhada começou no centro da cidade e dirigiu- se para a porta da discoteca Kiss, onde foram depositadas flores e mensagens de esperança. Vestidos de branco, familiares e amigos de vítimas empunhavam cartazes com os nomes daqueles que perderam. Muitos exigiam “justiça”, enquanto outros pediam “fé, força e coragem para continuar”.