Cadáveres de civis no rio que atravessa Aleppo
Síria. Entre 68 e 80 corpos, outras fontes falam em mais de cem, encontrados amarrados, com um tiro na cabeça, na margem do Quweiq
Quase dois anos após o início da revolta contra Bachar al- Assad, o mundo deparou- se ontem com mais uma descoberta macabra em território sírio: vários cadáveres apareceram numa das margens do rio Quweiq, que atravessa a cidade de Aleppo.
Serão entre 68 e 80 corpos, mas o número poderá ainda aumentar, segundo as várias fontes citadas pelos media internacionais. Homens, jovens, com as mãos atadas, alguns atrás das costas, com um tiro na cabeça e sem qualquer uniforme militar vestido. Civis, julgase, executados de forma brutal.
Segundo o Observatório sírio dos Direitos Humanos, uma organização não governamental com sede em Londres, “pelo menos 65 cadáveres não identificados foram encontrados em Boustane al- Kasr”, bairro controlado pelos rebeldes em Aleppo. Esta cidade do Norte da Síria tem sido palco de violentos combates entre as forças fiéis ao regime de Bachar al- Assad e os rebeldes opositores do mesmo.
“Na casa dos 20 anos de idade, foram executados com um tiro na cabeça, estavam vestidos à civil, tinham as mãos amarradas”, informou a mesma ONG, com base em testemunhos de rebeldes e médicos que estão no terreno.
Ouvido pela agência AFP, Abou Saada, combatente rebelde, disse que, até ontem à tarde, “foram recuperados 68 cadáveres. Entre eles estão crianças e o número poderá ainda ultrapassar os cem.” Os Comités de Coordenação Local, que foram citados pela Efe, falaram por sua vez em 80 corpos.
Saada acusou as forças de Assad pelas execuções, mas um responsável dos serviços de segurança do regime sírio, que também foi ontem citado pela AFP, apontou o dedo aos rebeldes. “Trata- se de cidadãos de Boustane al- Kasr que foram sequestrados por grupos terroristas depois de terem sido acusados de estarem do lado do regime. Foram executados na noite de segunda- feira para terça- feira e os corpos atirados para o rio. Foram sequestrados e os seus familiares tentaram, sem sucesso, negociar com os terroristas”, declarou esse responsável.
Os corpos estavam cobertos de barro e lodo e todos apresentavam um só ferimento de bala na cabeça, escreve Antonio Pampliega, em Aleppo pelo ElPaís. O jornalista cita a versão de um soldado rebelde chamado Abu Anas: “Foram executados na zona do regime e depois atirados ao rio; é possível que estejam mortos há vários dias porque a corrente não é muito forte e demoraram a chegar aqui. Não é a primeira vez que o regime executa civis e deixa os corpos na rua para os recolhermos. Mas é a primeira vez que recolhemos tantos cadáveres ao mesmo tempo”.
Enquanto a recolha dos cadáveres do rio acontecia, centenas de pessoas começaram a aproximarse da margem do rio. Procuravam familiares desaparecidos. Mohammad Abdel Assis contou que buscava o irmão: “Ele desapareceu há semanas quando atravessou para a zona fiel ao regime e não sabemos onde está nem o que é que aconteceu com ele. Vim procurá- lo. Se não aparecer aqui hoje, aparecerá num outro dia. Já perdemos a esperança de voltar a vê- lo vivo.” Ao fim da tarde, Pampliega fazia o seguinte balanço no seu Twitter: “78 corpos na morgue, 30 no rio, 108 no total.”