Diário de Notícias

Cadáveres de civis no rio que atravessa Aleppo

Síria. Entre 68 e 80 corpos, outras fontes falam em mais de cem, encontrado­s amarrados, com um tiro na cabeça, na margem do Quweiq

- PATRÍC I A VI E GAS

Quase dois anos após o início da revolta contra Bachar al- Assad, o mundo deparou- se ontem com mais uma descoberta macabra em território sírio: vários cadáveres apareceram numa das margens do rio Quweiq, que atravessa a cidade de Aleppo.

Serão entre 68 e 80 corpos, mas o número poderá ainda aumentar, segundo as várias fontes citadas pelos media internacio­nais. Homens, jovens, com as mãos atadas, alguns atrás das costas, com um tiro na cabeça e sem qualquer uniforme militar vestido. Civis, julgase, executados de forma brutal.

Segundo o Observatór­io sírio dos Direitos Humanos, uma organizaçã­o não governamen­tal com sede em Londres, “pelo menos 65 cadáveres não identifica­dos foram encontrado­s em Boustane al- Kasr”, bairro controlado pelos rebeldes em Aleppo. Esta cidade do Norte da Síria tem sido palco de violentos combates entre as forças fiéis ao regime de Bachar al- Assad e os rebeldes opositores do mesmo.

“Na casa dos 20 anos de idade, foram executados com um tiro na cabeça, estavam vestidos à civil, tinham as mãos amarradas”, informou a mesma ONG, com base em testemunho­s de rebeldes e médicos que estão no terreno.

Ouvido pela agência AFP, Abou Saada, combatente rebelde, disse que, até ontem à tarde, “foram recuperado­s 68 cadáveres. Entre eles estão crianças e o número poderá ainda ultrapassa­r os cem.” Os Comités de Coordenaçã­o Local, que foram citados pela Efe, falaram por sua vez em 80 corpos.

Saada acusou as forças de Assad pelas execuções, mas um responsáve­l dos serviços de segurança do regime sírio, que também foi ontem citado pela AFP, apontou o dedo aos rebeldes. “Trata- se de cidadãos de Boustane al- Kasr que foram sequestrad­os por grupos terrorista­s depois de terem sido acusados de estarem do lado do regime. Foram executados na noite de segunda- feira para terça- feira e os corpos atirados para o rio. Foram sequestrad­os e os seus familiares tentaram, sem sucesso, negociar com os terrorista­s”, declarou esse responsáve­l.

Os corpos estavam cobertos de barro e lodo e todos apresentav­am um só ferimento de bala na cabeça, escreve Antonio Pampliega, em Aleppo pelo ElPaís. O jornalista cita a versão de um soldado rebelde chamado Abu Anas: “Foram executados na zona do regime e depois atirados ao rio; é possível que estejam mortos há vários dias porque a corrente não é muito forte e demoraram a chegar aqui. Não é a primeira vez que o regime executa civis e deixa os corpos na rua para os recolhermo­s. Mas é a primeira vez que recolhemos tantos cadáveres ao mesmo tempo”.

Enquanto a recolha dos cadáveres do rio acontecia, centenas de pessoas começaram a aproximars­e da margem do rio. Procuravam familiares desapareci­dos. Mohammad Abdel Assis contou que buscava o irmão: “Ele desaparece­u há semanas quando atravessou para a zona fiel ao regime e não sabemos onde está nem o que é que aconteceu com ele. Vim procurá- lo. Se não aparecer aqui hoje, aparecerá num outro dia. Já perdemos a esperança de voltar a vê- lo vivo.” Ao fim da tarde, Pampliega fazia o seguinte balanço no seu Twitter: “78 corpos na morgue, 30 no rio, 108 no total.”

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REUTERS Sírios procuram familiares desapareci­dos entre os corpos que apareceram no rio
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REUTERS Reino Unido vai enviar formadores militares para o Mali

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