França vai testar vacina terapêutica contra o VIH
Serão precisos vários anos até haver resultados, mas há a esperança de que vacina possa substituir terapia com antirretrovirais. O objetivo é que seja o organismo a controlar a infeção
Vão começar nas próximas semana, em França, os ensaios clínicos de uma vacina contra o vírus da sida. Quarenta e oito seropositivos voluntários vão participar nos testes desta terapia, que oferece uma nova esperança na luta contra a doença. Os responsáveis pelo ensaio, no entanto, aconselham cautela. Erwann Loret adverte que mesmo que a vacina resulte “não é o fim da sida”.
Trata- se de uma vacina terapêutica, que, se funcionar, pode substituir a terapia tripla ( o tratamento com uma combinação de três antirretrovirais com efeitos secundários incómodos), por uma picada. O alvo é uma proteína do vírus da imunodeficiência humana ( VIH) chamadaTat – de transativador de transcrição de informação genética –, que nas pessoas seropositivas desempenha o papel de “guarda- costas” das células infetadas, explicou Erwann Loret na apresentação do ensaio clínico. Assim, o organismo não é capaz de reconhecer ou neutralizar as células infetadas. A vacina que vai ser testada vai tentar eliminar esses “guarda- costas”, para permitir ao sistema imunitário reagir.
O objetivo é conseguir que seja o organismo a controlar a infeção, explica a infecciologia Teresa Branco. “A base científica existe, mas agora é preciso verificar se funciona, se se aplica a todos os doentes, qual a melhor dose... São ensaios muito precoces e é preciso gerir as expectativas”, alerta, lembrando que muitas outras va- cinas acabaram por não se revelar eficazes.
O ensaio clínico recebeu luz verde da agência nacional de segurança do medicamento francesa na semana passada e deverá começar em fevereiro, sendo necessário selecionar e preparar os 48 voluntários.
Mas esta é apenas a primeira fase. Se os testes forem bem- sucedidos, será preciso recrutar 80 pes- soas para participar na segunda – metade recebendo a vacina e metade um placebo. Ou seja, são ainda precisos vários anos até ter resultados.
Em todo o mundo há mais de 34 milhões de doentes infetados pelo VIH, que desde 1981, quando apareceram os primeiros casos, já matou 30 milhões de pessoas. Em Portugal o total de infetados ultrapassa os 42 mil.