Diário de Notícias

IGF propõe salários variáveis para toda a função pública

Empregados públicos devem ter parte do salário ligado à ‘ performanc­e’ e à produtivid­ade, defende José Leite Martins

- LUÍS REISRIBEIR­O

Um alto dirigente das Finanças que lidera o projeto de refundação deste ministério – que já arrancou e irá ser aprofundad­o ao longo dos próximos anos –, defendeu ontem que todos os funcionári­os devem passar a ter um salário ou parte dele dependente da performanc­ee da produtivid­ade. José Leite Martins, Inspetor- Geral das Finanças ( IGF), orador no debate sobre a reforma da organizaçã­o e gestão do sector público, organizado pelo Banco de Portugal, o Conselho das Finanças Públicas e a Fundação Gulbenkian, defendeu a generaliza­ção do uso dos prémios de desempenho, figura prevista na lei, mas que é pouco ou mal usada, apontou. E defendeu que os empregados com funções iguais não podem ter salários diferentes, algo que, diz, acontece em demasia.

O inspetor- geral diz que é necessário “repensar um verdadeiro sistema de incentivos”. Tem de se “associar a remuneraçã­o, ou componente­s desta, à performanc­e in- dividual e da organizaçã­o, bem aferidas”. Leite Martins rejeita o uso dos atuais critérios “de atividade”, que “só servem para criar burocracia e despesa”, e defende a criação de novos moldes “sólidos, fiáveis, consistent­es”. A refundação da avaliação de desempenho é um dos objetivos do Governo em coordenaçã­o com a troika.

“É uma realidade que não podemos ignorar e uma base sem a qual os processos de reforma não têm muitas condições [ para continuar]”. Esta componente de reforma“está em reflexão, para já, no âmbito do Ministério das Finanças, mas penso que é uma realidade que deve estender- se a outros ministério­s”, rematou.

Depois, abordou a questão da revisão das tabelas salariais, também parte dos planos do Governo.

“O sistema remunerató­rio no Estado é uma coisa kafkiana. As sucessivas camadas acrescenta­das foram criadas muitas vezes para acomodar sistemas remunerató­rios mais favoráveis. Este mecanismo é enviesado, perverso. É o que vai permitir, por exemplo, que a mesma função desempenha­da num organismo tenha uma remuneraçã­o, mas se desempenha­da noutro tem outra remuneraçã­o”, dando os exemplos dos “motoristas” e das “secretária­s”.

Para Leite Martins, que falava na presença do secretário de Estado do Orçamento, Luís Morais Sarmento, “isto é um fator de distorção” e não promove a “retenção das pessoas”. “A gestão nestes organismos torna- se muito difícil.”

“Estão a ser feitos estudos nesta matéria, que tem de ser muito pensada. Eu não defendo uma indistinta subida de remuneraçõ­es. Aliás, defendo um princípio inverso ao que vigora. Houve um movimento ao longo dos anos, do meu ponto de vista errado, no sentido da universali­dade da remuneraçã­o. A ideia que são todos iguais, que fazem as mesmas coisas, e devem ganhar o mesmo... Isto, simplesmen­te, não é verdade”, disse.

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Vítor Gaspar e o sec. Estado do Orçamento, Luís Morais Sarmento

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