Diário de Notícias

Qatar acusado de comprar organizaçã­o do Mundial 2022

Revista ‘ France Football’, parceira da FIFA na Bola de Ouro, publicou um dossiê que deixa dúvidas sobre a votação que levou o Mundial de futebol para o país do golfo Pérsico

- B RUNO PI RE S

Uma extensa teia de relações nebulososa­s com favores e contrafavo­res pode ter ajudado o Qatar a concretiza­r o sonho de organizar o Mundial de futebol 2022.

A dúvida é levantada pela revista francesa France Football, que, por sinal, organiza os prémios Bola de Ouro... juntamente com a FIFA. A prestigiad­a publicação inclui nas suspeitas os nomes de Nicolas Sarkozy, antigo presidente da República francesa, e de Michel Platini, atual líder da UEFA. Em novembro de 2010, no Palácio do Eliseu, terá havido uma reunião de Platini e Sarkozy com o príncipe Al- Thani. E o acordo era simples: aUEFA dava os seus votos ao Qatar e em troca os catarenses investiam milhões no Paris Saint- Germain e ainda promoviam a compra dos direitos televisivo­s da Liga francesa por intermédio de um canal que competisse com o Canal+, órgão de comunicaçã­o que nunca foi muito amigável com a gestão de Sarkozy.

Pouco tempo depois, o Paris Saint- Germain tinha um novo investidor e a Al Jazeera “roubou” os direitos televisivo­s ao Canal+. E o Qatar ficou com o Mundial 2022, deixando pelo caminho os Estados Unidos, a Austrália, a Coreia do Sul e o Japão ( estes últimos em conjunto).

“Um dia fui convidado para um jantar com Sarkozy onde estava o primeiro- ministro do Qatar. Sarkozy nunca me pediu durante o jantar que votasse pelo Qatar. Votei pelo Qatar porque era o momento de o Mundial ir para um país daquela zona do mundo. Já tinham sido candidatos cinco vezes”, justificou Platini, que classifica a investigaç­ão publicada de “chorrilho de mentiras.”

Mas há mais nomes implicados pela France Football, a começar pelo presidente do Barcelona, San- dro Rosell, que é tido como muito influente e fez contratos, em nome do clube catalão, com a Qatar Foundation e a Qatar Airways. Também na Espanha, o presidente da Real Federação espanhol, Angel Villar, é acusado de ter trocado o voto no Qatar 2022 pelo voto na candidatur­a luso- espanhola ao Mundial 2018, que acabaria por ser entregue à Rússia, situação que terá deixado Villar irado.

A publicação vai mais além ao referir que os catarenses gastaram avultadas somas para comprar os votos necessário­s a garantir a or- ganização do Mundial 2022. Entre eles está Ben Hammam, ex- presidente da Confederaç­ão Asiática de futebol, que foi irradiado. Também o paraguaio Nicolás Leoz, presidente da Confederaç­ão Sul- americana, está sob suspeita, pois assinou, logo após a atribuição do evento, acordos bilaterais entre a federação do seu país com o sheik Al- Thani. Julio Grondona, presidente da Associação de Futebol da Argentina, também está a ser investigad­o devido a negócios suspeitos, muitos deles envolvendo o Qatar, sendo que este último país pagou cinco milhões de euros por um jogo entre a Argentina e o Brasil... dias antes da votação final.

A France Football vai agora entregar o resultado da sua investigaç­ão à FIFA. Em caso extremo, o Mundial 2022 será deslocado para os Estados Unidos, ainda assim os responsáve­is do Qatar dizem “que cumpriram todas as regras”.

 ?? DENIS BALIBOUSE- REUTERS ?? Atribuição do Mundial ao Qatar pode custar caro a Nicolas Sarkozy e a Michel Platini
DENIS BALIBOUSE- REUTERS Atribuição do Mundial ao Qatar pode custar caro a Nicolas Sarkozy e a Michel Platini

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal