Diário de Notícias

Duas peças em que os Stan perguntam: o que fazemos nós aqui?

TEATRO Grupo belga apresenta ‘ Os Veraneante­s’, de Gorki, na Culturgest, e ‘ O Caminho Solitário’, de Schnitzler, no Maria Matos

- M. J. C.

Em OsVeranean­tes, peça de Maxim Gorki ( russo, 1868- 1936), um grupo de burgueses, de férias no campo, fala sobre os filhos, a literatura, a vida e discute qual deve ser o seu papel na sociedade. Há uma atriz, um escritor, um empresário, um advogado... Eles são a elite intelectua­l e perguntam- se: devemos beber, comer e aproveitar a vida? Ou devemos agir, intervir na sociedade?

A pergunta é feita, hoje em dia, pelo grupo belga Stan, que estreou OsVeranean­tes no ano passado, em Toulouse. “Temos apresentad­o este espetáculo pela Europa e o que se passa é que se as pessoas não souberem pensam que estão a ver um texto contemporâ­neo. Na Grécia a reação foi esmagadora, as pessoas sentiram- se muito próximas”, explica ao DN Jolente De Keersmaeke­r, uma das atrizes e fundadoras dos Stan. “Aquelas personagen­s estão a falar de nós. A beleza desta peça é essa, é tão atual.”

Os Stan regressam a Lisboa para apresentar não só OsVeranean­tes ( sábado e domingo, na Culturgest), como também O Caminho Solitário, que é uma peça de Schnitzler ( entre hoje e domingo, no Teatro Maria Matos). As duas peças não foram feitas para serem vistas em conjunto mas não deixa de ser uma feliz proposta esta. “Foram escritas na mesma altura [ 1903- 1905], o que é uma coincidênc­ia”, reconhece a atriz. “E são peças muito diferentes. A de Gorki é mais social, a de Schnitzler é mais existencia­lista. Mas ambas falam da condição humana.”

Na peça de Arthur Schnitzler ( austríaco, 1862- 1931), as personagen­s questionam- se, sim, mas de uma forma diferente: “Não é só sobre envelhecer e olhar para trás. É sobre fazer escolhas, fazer as escolhas erradas, o que é a mentira e o que não é a mentira. Põe- nos a perguntar o que estamos aqui a fazer e o que devemos fazer, não para mudar o mundo mas para sermos felizes.”

Para contar o drama de um filho que descobre que afinal o seu pai verdadeiro não é o pai que sempre conheceu, o grupo optou por pôr os atores a trocarem de personagem a meio dos diálogos. “É uma forma de despsicolo­gizar”, explica Jolente. “Não queremos que haja uma moral. Pelo contrário. A ideia é: isto poderia acontecer a qualquer um. E se fosse eu a perder o meu amor? E isso transforma esta história noutra história.” E, mais uma vez, tão atual.

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