A reforma do futebol profissional
Em termos sociológicos, a actividade profissional do “futebol”, está, de facto, equiparada à “nova escravatura”, em que os seus “trabalhadores” são os “novos escravos” embora, ao contrário dos outros, recebam verbas avultadas, durante o período em que se mantêm activos.
… Mas é preciso não esquecer, e convém aqui lembrá- lo, para aqueles que não tiveram a oportunidade de o estudar, que a escravatura só acabou por questões de rentabilidade, porque efectivamente o “escravo” não rendia no trabalho. Que fique bem claro que não foi por razões humanitárias que o esclavagismo “acabou”. Foi sim por razões de rentabilidade, não por uma questão de bondade. Quer isto dizer que os empresários, ontem como hoje, determinam- se e preocupam- se apenas com a rentabilidade e o lucro.
Ora, no presente, com o futebol profissional, passa- se o mesmo, ou seja, os “empresários” do futebol pagam verbas avultadas aos seus “trabalhadores”, mas quando estes deixam de render o máximo possível, passam a ser “descartáveis” e não são tratados sequer como o “lixo”, j á que este, hodiernamente, é reciclado.
Tudo isto porque era precisa outra “atitude” para com esses profissionais, por parte da tutela. Era preferível, e necessário, para além de conveniente, que tivessem acesso apenas a uma parte daquilo que auferem, ficando a entidade patronal obrigada a tratá- los como pessoas que são, e não como objectos, apenas para proporcionarem “prazer” e “gáudio” às multidões que pagam o bilhete para “obterem” o seu momento de catarse, ou até de “alienação”, para “sobreviverem” às agruras do dia- a- dia. Mas, dizia- se, era preciso que fossem tratados com a dignidade a que toda a pessoa humana tem direito, e também com a obrigação, por parte da entidade empregadora, e com a supervisão de um organismo oficial para esse fim, de prepararem e preservarem o futuro desses profissionais que, infelizmente, na sua maioria, acaba na miséria.
Isto será possível, “obrigando- os” a estudar para conseguirem um diploma de formação profissional que permita o desempenho de uma profissão quando acabarem a sua vida activa, nesse tipo de actividade, que é altamente desgastante e de envelhecimento rápido, com alguma incapacidade física para uma prática desportiva de “alta competição”.
Por outro lado, quem tutela o futebol espectáculo deverá exigir e fiscalizar, com meios adequados, que a actividade profissional seja dirigida por profissionais qualificados, academicamente, de modo a não permitir que sej am despendidos esforços não compatíveis com o estado de treino, o que a verificar- se provocará lesões irreversíveis e que impossibilitam qualquer recuperação, com o regresso à normalidade.
Ética e deontologicamente, isto é uma obrigação de qualquer técnico com qualificação superior, mas por vezes, por imposição da entidade patronal, são obrigados a “esquecer” esse “pormenor”, concorrendo assim para a degradação rápida da saúde desses trabalhadores do futebol profissional. Por outro lado, não compreendemos a razão de “isto” não ser observado, apesar de já estar estudado há muito tempo, e de simultaneamente o Estado, e não só, gastar milhões com o combate ao doping, fingindo, desta forma, que se preocupa com a saúde dos profissionais do desporto. É que quem deve controlar isso é a própria entidade empregadora, porque caso contrário a saúde dos “trabalhadores” degrada- se rapidamente e lá se vai o “investimento”. Evidentemente que a entidade patronal também teria de ser controlada através de acções de fiscalização à saúde dos seus “trabalhadores”. É que despender esforços violentos sem preparação é muito pior do que o uso de “esteróides”, j á que pode haver morte súbita, em plena actividade laboral. E se tiverem dificuldades em encontrar quem fiscalize, a “ASAE” dará, certamente, uma ajuda …
Do que é tempo é de a FPF, a Liga e o sindicato dos jogadores de futebol, e ainda os “agentes” dos jogadores, perceberem que está na hora de mudar de atitude e de passar a tratar os profissionais do futebol com a dignidade que qualquer pessoa merece, representando ainda para o País uma boa, inteligente e rentável medida. Claro que na vanguarda estará a SEDJ.