Diário de Notícias

“Nobel da água” para sabedoria indiana antiga

Rajendra Singh recuperou tradição de captação da água das chuvas no Rajastão

- F I LO MENA NAV E S

Há 30 anos, o então jovem médico indiano Rajendra Singh fez as malas e rumou ao interior do Rajastão, onde tencionava criar uma rede de cuidados de saúde para os camponeses. Nas aldeias, porém, disseram- lhe que ali o verdadeiro problema era a falta de água, que enchia a terra de gretas, devastava colheitas e expulsava a população. Ele, então, com a ajuda das populações, criou uma rede de captação e distribuiç­ão de água que hoje abastece mais de mil aldeias e devolveu a fertilidad­e aos solos. Ontem, o “homem da água da Índia”, como se tornou ali conhecido, ganhou o Stockholm Water Prize, considerad­o o Prémio Nobel da Água.

Nestas três décadas, Rajendra Singh recuperou, modernizou e pôs em prática, com a ajuda dos locais e de grupos de jovens, o sistema milenar de captação e armazename­nto de água das antigas populações do Rajastão, construind­o poços subterrâne­os para armazenar a água das chuvas e um sistema de distribuiç­ão e irrigação. Com isso, devolveu a mais de mil aldeias da região a possibilid­ade de encarar o futuro de forma mais confiante, sem o espetro da escassez alimentar.

O sistema de captação de água dos antigos habitantes da região tinha sido abandonado durante a época colonial britânica.

Criado em 1991 pela Stockholm Water Foundation e patrocinad­o pela coroa sueca, o Stockholm Wa- ter Prize é atribuído anualmente a indivíduos ou organizaçõ­es com trabalho excecional relacionad­o com a água no planeta. No caso de Rajendra Singh, o júri considerou que ele “é um farol”, num mundo onde “a procura de água aumentou exponencia­lmente e no qual enfrentare­mos uma crise séria de escassez de água nas próximas décadas se não aprendermo­s a gerir melhor a nossa água”.

O antigo médico e “homem da água da Índia” recebeu a notícia com grande satisfação. “É muito encorajado­r e inspirador”, afirmou. “Graças à sabedoria indiana de colheita de água, transformá­mos aldeias pobres e abandonada­s em sítios prósperos para viver.”

Nestes trinta anos de trabalho no Rajastão, Rajendra Singh e os Tarun Bharat Sangh ( Associação de Jovens da Índia), com os quais trabalhou lado a lado, promoveram a construção de cerca de 8600 poços para captação de água das chuvas – johads, na língua local – que permitiu devolver a esperança a uma região que antes era árida e que agora se tornou fértil e onde voltou a haver florestas.

“Quando começámos o nosso t rabalho est ávamos s obretudo preocupado­s com a água potável para abastecer as populações. Hoje o nosso objetivo ampliou- se”, afirma Rajendra Singh. “Estamos no século XXI, que é um século de exploração dos recursos, de poluição e de usurpação. Parar tudo isto e converter a guerra da água na paz, esse é o objetivo da minha vida”, conclui Rajendra Singh.

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Príncipe Carlos já teve oportunida­de conhecer o trabalho de Singh

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